15 abril 2015

UM «AMPELMÄNNCHEN» DE PRESENTE PARA JERÓNIMO DE SOUSA

Apesar dos méritos que a ideia possa ter, comece-se por confessar que já vai atrasada: o aniversariante já fez anos anteontem, a 13 de Abril, 68 anos para ser preciso. Mas a prenda parece-me tão especificamente dedicada a um comunista nostálgico que certamente anulará esse atraso. Conte-se um pouco da história deste pequeno boneco para perceber porquê.
Ampelmännchen são uns bonequinhos de desenho castiço que são usados nos semáforos para as passadeiras, no caso originalmente nas de Berlim-Leste, e que posteriormente se espalharam por toda a Alemanha Oriental. A data da sua adopção acrescenta algo ao seu simbolismo: a 13 de Outubro de 1961 haviam-se passado apenas dois meses sobre a construção do Muro e...
...Berlim tornara-se numa cidade absolutamente dividida. E a especificidade dos bonecos evidenciava-o quando em contraste com o design dos seus homólogos de Berlim Ocidental. Assim permaneceram os dois modelos durante os 28 anos que se seguiram, até 1989, e mais para além disso, porque a sua insignificância não fez deles uma prioridade no grande esforço de estandartização simbólica (e outra)...
 ...que a República Federal fez nos anos que se seguiram à reunificação. Em 1995, quando chegou a vez da normalização desses pequenos adereços, já haviam surgido as primeiras expressões daquilo que ficaria a ser conhecido por Ostalgie (nostalgia pelos símbolos do passado comunista) e objectos daquele género haviam passado a possuir um valor simbólico: apareceram campanhas de opinião para a preservação dos bonecos com aquele estilo kitsch de chapéu na cabeça.
Vingaram e mais do que isso: vinte anos passados, o ampelmännchen tornou-se a mascote do comunismo nostálgico ao mesmo tempo que se tornou – sem aparentes contradições dialécticas – num negócio de vários milhões, para além de se ter tornado uma prenda que cai sempre bem quando oferecida a um comunista que não renega as suas convicções, pretexto para o ter invocado aqui.

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