16 abril 2015

OS RECONSTRUTORES DO PARTIDO COMUNISTA

Poucas pessoas, mesmo as que evocam com frequência nostálgica os tempos do PREC (de que se assinalam agora os 40 anos das eleições para a Constituinte), costumam ir à profundidade daqueles detalhes realmente enternecedores para os recuperar para o presente. Tomemos o exemplo da UDP (União Democrática Popular), organização nascida em Dezembro de 1974 e que o tempo fez esquecer que fora constituída para constituir a frente de massas de um Partido Comunista a reconstruir – o Partido Comunista Português (Reconstruído) – na sequência da grande tragédia ideológica no movimento comunista internacional da década anterior que fora a cisão sino-soviética. Os maoistas em Portugal haviam-se pulverizado numa miríade de pequenos clubes a fazer lembrar o Clube dos Sete das aventuras infantis de Enid Blyton.
Em cada um deles o parco número de associados era bem capaz de se assemelhar aos Sete e as reuniões, no seu secretismo e no seu carácter iniciático, também. Nesses clubes maoistas, os comités deviam ser todos centrais porque nem sobraria gente para formar comités... laterais. Havia porém diferenças para o Clube do Pedro e da Joaninha: a) A sua missão não era solucionar mistérios e ajudar a polícia, mas fazer a Revolução proletária; b) ao contrário de um simples CS (Clube dos Sete, veja-se acima afixado na porta), a malta adorava baptizar os seus clubes com nomes compridos, o que propiciava designações com muitas siglas.
A UDP e o propósito de reconstruir um outro Partido Comunista Português resultou assim da junção das vontades dos CMLP (havia vários comités, pelos vistos), da OCMLP e da ORPC(M-L). Como se constata acima, as vontades eram de aço e era tudo muito M-L (Marxista-Leninista), o que na gramática da época e apesar do anacronismo de se invocar Marx e Lenine (em vão...), qualificava as organizações que assim se designavam como maoistas. Melhor que isso e neste caso particular, de um maoismo ainda mais destilado para gostos europeus e que se ia inspirar no exemplo de Enver Hoxha e da sociedade socialista avançada que estava a ser edificada na Albânia. Houve vários vultos da actualidade que se associaram a essa vontade de copiarmos as referências albanesas para este nosso jardim à beira mar plantado. Foram os casos de (por ordem de idade, que a antiguidade também pode ser um critério revolucionário):
Esther Mucznik (1947-....) e António Perez Metelo (1948-....)
José Mariano Gago (1948-....) e Nuno Crato (1952-....)
Jorge Coelho (1954-....) e João Carlos Espada (1955-....)
Henrique Monteiro (1956-....) e José Manuel Fernandes (1957-....)

Mas a preciosidade que guardei para o fim foi a reprodução de um Hino da Reconstrução do Partido, uma daquelas raridades com uma letra que vale a pena acompanhar. Imaginar qualquer das oito personalidades acima a cantá-lo actualmente é, em si, uma delícia nostálgica...


Em frente pela reconstrução do Partido da classe operária
Punhos erguidos numa muralha, vamos travar mais uma batalha
Contra a fome e a miséria, explorados e oprimidos
Como um sonho, mais para a frente, conduzidos pelo Partido
Forte e organizada, numa irresistível maré
A classe operária triunfará, a classe operária está de pé!

Em frente pela reconstrução do Partido da classe operária
Punhos erguidos numa muralha, vamos travar mais uma batalha
Fora com os revisionistas, de Cunhal e sua companhia
Que se mascaram de comunistas para melhor servir a burguesia
A traição será vingada, numa irresistível maré
Pelo partido, que derrubaram, a classe operária está de pé!

Em frente pela reconstrução do Partido da classe operária
Punhos erguidos numa muralha, vamos travar mais uma batalha
Não haverá oportunistas que nos afastem desta conduta
O Partido não se decreta, há-de ser forjado na luta
A vanguarda proletária, numa irresistível maré
Já se organiza para o partido, a classe operária está de pé!

Em frente pela reconstrução do Partido da classe operária
Punhos erguidos numa muralha, vamos travar mais uma batalha
Com o Partido Comunista dirigente da Revolução
Aplicando o marxismo-leninismo, operários, camponeses, vencerão
Contra o capitalismo, numa irresistível maré
O Comunismo triunfará, a classe operária está de pé!

Em frente pela reconstrução do Partido da classe operária
Punhos erguidos numa muralha, vamos travar mais uma batalha
Em frente pela reconstrução do Partido da classe operária
Punhos erguidos numa muralha, vamos travar mais uma batalha

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