No seguimento do extenso discurso sobre política ultramarina que António Salazar havia pronunciado duas semanas antes pela rádio e televisão, de que aqui dei conta neste blogue, as denominadas forças vivas do regime decidiram promover uma manifestação de apoio a Salazar, que ficou marcada para 27 de Agosto, ao fim da tarde, no Terreiro do Paço. O convite dos «organismos patronais» - a lista dos grémios é propositadamente extensa - que podemos ler acima e que foi publicado dois dias antes nos jornais, parece-me suficientemente esclarecedor nos seus considerandos sobre a natureza e os propósitos da manifestação, que me dispensa comentários adicionais.
A RTP compareceu com uma equipa de reportagem que transmitisse as palavras do presidente do Conselho, um discurso de poucos minutos, que veio a ser sintetizado posteriormente numa passagem: «Está tudo bem assim e não podia ser doutra forma». Mas a equipa de reportagem da RTP não teria apenas essa incumbência, já que, na panorâmica que recolheu da multidão que enchia a Praça do Comércio, que veio a ser estimada pelos jornais em 200.000 pessoas, acabou por se concentrar - e não por acaso... - no local onde se encontrava Cilinha Supico Pinto, a esposa do presidente da Câmara Corporativa, e figura mediática do regime.
Para quem esteja interessado em perceber agora como estas coisas se montavam, Cecília Supico Pinto aparece no vídeo mais acima aos 3:05 a bater palmas entusiasmadamente, e reaparece aos 3:55 ainda a escutar atentamente as palavras do presidente do Conselho. A ingenuidade para com a manipulação dos meios audiovisuais ainda era grande, embora haja outros processos de organizar estes eventos que são de sempre, como este abaixo, encerrando os locais de diversão na tarde da manifestação. São métodos consagrados e que são transversais a qualquer ideologia: ainda hoje, na Festa do Avante, os bares encerram obrigatoriamente quando do discurso do secretário-geral do PCP.
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