14 agosto 2023

ESPREMER A TRAGÉDIA ATÉ ÀS LÁGRIMAS

O assunto em si é trágico, e por isso sério, mas a forma como a comunicação social o tem vindo a explorar desmente todas essas boas intenções. Como tudo o que de trágico acontece nos Estados Unidos, também somos bombardeados intensamente com imagens e notícias sobre os incêndios no Havai. Numa primeira fase, ainda houve a esperança das notícias nos associarem à tragédia, contando com aquela eventualidade que há um português em todos os cantos do Mundo. Só que desta vez não. O ministério dos Negócios Estrangeiros foi taxativo: «não há portugueses afectados». Na falta do compatriota infeliz (evoquemos o caso do primeiro português infectado com covid num navio de cruzeiro no Japão...) e para conferir mais emoção à tragédia, as televisões e jornais nacionais tiveram então que recorrer ao sucedâneo de criar a preocupação com os luso-descendentes do Havai. Uma comunidade que, ironia das ironias, o mesmo Diário de Notícias que acima se mostra preocupado com a sua sorte, ainda há dois meses a dava como cada vez mais diluída e distanciada das suas origens: «Nota-se uma comunidade quase no fim do seu traje(c)to». Outra notícia do mesmo jornal, mas de hoje, dá conta que o arquipélago conta com 1.915 falantes de português, ou seja 0,13% da população hawaiana... Não serão muitos os laços que nos ligam aos tais luso-descendentes. Estes expedientes jornalísticos de espremer as tragédias até às lágrimas são uma completa estupidez, que apenas desacredita quem os pratica.

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