24 agosto 2023

PARA OS JORNALISTAS PORTUGUESES PARECE QUE A «CONSCIÊNCIA AMBIENTAL» NÃO É UMA CAUSA, É UMA PESSOA, E É APENAS ESSA PESSOA

Como acontece com Mário Nogueira e o sindicalismo dos professores, que anda há mais de trinta anos naquilo e nunca mais se dispõe a sair de cena, também a causa da «consciência ambiental», como acima a designam hoje no Público, essa causa do ambiente corporiza-se numa só pessoa, se atendermos à forma como a comunicação social cobre o tópico. Ao longo destes últimos 25 anos, permanece para mim um enorme mistério, porque é que qualquer tópico que tenha a ver remotamente com questões ambientais se circunscreve mediaticamente a Francisco Ferreira, o senhor que aparece na fotografia supra, hoje objecto de (mais) uma entrevista, a pretexto de estarmos em Agosto e haver que encher as páginas do jornal. Se bem me lembro, o seu aparecimento inicial, ainda em finais do século passado (1996), devia-se à sua condição de presidente de uma associação ambientalista que, apesar de fundada em 1985, ninguém conhecera até então, e que dava pelo nome de Quercus. A figura inicialmente simpática do careca da Quercus (a careca precoce de Francisco Ferreira parecia funcionar como uma demonstração muda, mas eloquente, do efeito corrosivo das chuvas ácidas), foi-se desgastando, porque os seus aparecimentos mediáticos iam constantemente no sentido de bloquear, por razões ambientais aparentemente muito respeitáveis, quaisquer iniciativas sobre as quais pretendessem pronunciar-se. A ponto de a Imprensa Falsa o ter parodiado a opôr-se à demolição de uns barracões velhos porque eram os locais de nidificação de uma espécie como as ratazanas de esgoto... Esta fase do careca da Quercus foi-se esvanecendo com o tempo, para que o protagonista Ferreira ressuscitasse subitamente em 2016... mas com uma mudança de marca. A partir daí a Quercus desaparece praticamente das notícias para ser substituída pela «associação ambientalista Zero». Mais uma vez, os jornalistas são de uma indulgência extrema na apresentação desta nova organização de Francisco Ferreira, da qual, e como acontecia com a anterior, continua a promover-se um e apenas só um membro. Nunca se soube (porque também ninguém nunca terá perguntado...) as razões para a «nova associação criada a partir de uma cisão na mais conhecida associação ambientalista portuguesa» (Quercus). Quais haviam sido as causas para tal cisão? Quem era a «mão-cheia de ex-presidentes» que abandonara aquela outra «ONG do ambiente»? Estas perguntas ganhavam uma pertinência suplementar porque, por aquela altura e desde 2015, já a causa da «consciência ambiental» ganhara representação parlamentar através da eleição do deputado André Silva do PAN. Mas engana-se quem, ingenuamente, pensasse que as duas organizações (e dois protagonistas) compartilhavam objectivos comuns. Não apenas não compartilham, como têm métodos de actuação diferentes. O PAN, André Silva e agora Inês Sousa Real vão a eleições, apresentam-se a votos, aquilo que propõem é escrutinado. Em contraste, Francisco Ferreira e a Zero que já foi Quercus, não tem mostrado qualquer interesse em captar votos, apenas um talento inaudito para, por causa da causa do ambiente, não se fazer esquecido junto dos jornalistas e estar sempre a aparecer - (1) (2) (3) (4). Hoje foi apenas mais uma dessas vezes, e confesso que este expediente, de tão repetido e tolerado, mais a mediocridade de quem o promove e com ele contemporiza, me irritam.

Sem comentários:

Enviar um comentário