21 agosto 2023

O ASSASSINATO DO LÍDER DA OPOSIÇÃO FILIPINA À FRENTE DA COMUNICAÇÃO SOCIAL AMERICANA

21 de Agosto de 1983. As Filipinas de há quarenta anos eram uma ditadura, mas daquelas onde, de quando em vez, se realizavam eleições pluralistas, uma obrigação que era imposta pela antiga potência colonial: os Estados Unidos. Claro que as eleições eram fraudulentas e ganhava invariavelmente o partido no poder, mas existência de campanhas eleitorais criava oportunidades para que aparecessem, promovessem (...e se popularizassem) políticos da oposição. Fora o que acontecera a Benigno Aquino Jr. (1932-1983). O pior era o que acontecia entre eleições, quando as atenções mediáticas da América se viravam para outros lados. Também fora o que acontecera a Benigno Aquino Jr. Acabou preso pela ditadura filipina entre 1972 e 1980. Quando sofreu um ataque cardíaco na prisão, e porque a sua morte seria um embaraço em termos das relações com os Estados Unidos, foi libertado e autorizado a tratar-se nos Estados Unidos, na condição explícita de se manter no exílio. No Verão de 1983, contra aquilo a que se comprometera, Benigno Aquino decidiu-se a voltar às Filipinas.

Apanhou um voo num avião da companhia aérea da Formosa, vindo de Taipé. E tentou regressar escudado pela comunicação social norte-americana, já que viajava rodeado de uma delegação de jornalistas norte-americanos. Durante a viagem, entrevistaram-no. A sua viagem era um segredo de polichinelo: em Manila, capital das Filipinas, alguns milhares de oposicionistas esperavam Aquino no aeroporto. Mas à sua espera, e ainda antes dos passageiros começarem a sair do avião, um pequeno destacamento de militares veio ter com o exilado que regressava, para o conduzir a uma carrinha que os aguardaria junto ao avião. Os jornalistas ficaram para trás e Aquino nunca chegou a entrar na carrinha. Foi alvejado a curta distância na placa de estacionamento do aeroporto. Por quem ainda hoje é motivo de dúvida: o assassinato ocorreu praticamente à frente de um punhado de jornalistas mas ninguém pode afiançar o que de facto aconteceu. A versão oficial veio a ser que fora um terceiro atacante, que fora de imediato abatido pelos militares. Na versão não oficial, a narrativa oficial não passaria de uma encenação dos militares.

Seja como for, entre os americanos o regime ditatorial filipino do presidente Ferdinando Marcos foi responsabilizado pelo que acontecera. O jornal The New York Times do dia seguinte (acima) dava ao incidente o destaque de primeira página que se pode apreciar. Essa era a opinião publicada. Em termos mais institucionais, o comunicado do departamento de Estado declarava que «o assassínio do senador Benigno Aquino é um acto cobarde e ignóbil que o governo americano condena nos mais vigorosos termos.» O assassinato de Benigno Aquino é hoje considerado o princípio do fim do regime filipino. É apenas sintoma das suas capacidades intrínsecas de resistência e da fraqueza das oposições que tenha demorado mais dois anos e meio até vir a cair em Fevereiro de 1986.

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