Retornando ao tema do apoio de Manuel Pizarro a Jorge Nuno Pinto da Costa, que reencena uma situação promíscua entre política e futebol que correu mal com António Costa e Fernando Medina e Luís Filipe Vieira há três anos, veja-se a abordagem distorcida como o jornalista Henrique Pinto de Mesquita apresenta a questão no jornal Público, protegendo uns membros do governo e envolvendo outros que, como rematava o poema Quadrilha de Carlos Drummond de Andrade, não tinham entrado na história (do apoio de Pizarro a Pinto da Costa).
O protegido é Fernando Medina, que, como presidente da Câmara de Lisboa de então, esteve envolvido na história do apoio a Luís Filipe Vieira tanto como António Costa, mas que é tratado ao longo da notícia como um apêndice de Costa. Em contraste, quem é convocado extemporaneamente é Pedro Adão e Silva, que, à época (2020), não tinha nenhum cargo oficial, e do qual que nos é recordado que, como apoiante da lista concorrente, se mostrou crítico da atitude adoptada pelos outros dois. Mas, o mais protegido pelo twist dado ao artigo, será indubitavelmente Luís Filipe Vieira, já que o jornalista se esqueceu de mencionar que dez meses depois da polémica, o presidente do Benfica foi detido por suspeitas de crimes de burla e de fraude fiscal e compelido a renunciar ao cargo.
São episódios como este, em que os envolvimentos de Pinto da Costa não serão aparentemente muito diferentes dos de Luís Filipe Vieira, que explicam as razões para que, depois do episódio entre Costa, Medina e Vieira, se extraiu a lição que será recomendável que haja uma enorme prudência nas relações entre política e futebol. Lição e prudência a que Pizarro não dá atenção nenhuma na breve entrevista que concede ao jornalista. Para este último, a atender ao título que escolheu para o artigo que escreveu, o problema não reside em Pizarro, mas antes em Adão e Silva que se mostra incoerente por não criticar agora, como o havia feito antes, a conduta de quem se envolve com o mundo do futebol. («Pizarro reproduz a fórmula, mas agora Adão e Silva não comenta») A distorção final (que, sendo final, por acaso até aparece no início do artigo...) é que o artigo é classificado na categoria do futebol, quando o tópico é descaradamente político.
Ao contrário do twist do Público, se Pizarro mostra aqui não ter aprendido nada com as asneiras que os socialistas no poder têm cometido, espero ao menos que Adão e Silva, depois do que aconteceu com o que disse sobre a comissão de inquérito da TAP, tenha aprendido que não pode emitir comentários à sua vontade sobre o que lhe apetece e que agora continue discreta e decentemente calado. Quanto ao twist do Público, transferir as culpas de Pizarro para Adão e Silva, ele é tão rebuscado e tão funcional em deflectir as culpas de um responsável para outro, que me suscita grandes dúvidas se o jornalista Henrique Pinto de Mesquita o conseguiu conceber sozinho. Porque, quanto a reputações estragadas, não é só o futebol, nem a política: assim vai a reputação do jornalismo também.
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