20 agosto 2023

OPERAÇÃO «ALCANCE INFINITO»

(Republicação)
20 de Agosto de 1998. Há precisamente vinte e cinco anos e em retaliação contra dois atentados que haviam tido lugar contra as embaixadas americanas de Nairobi e Dar es Salaam, os Estados Unidos desencadeiam um conjunto de ataques com mísseis contra alvos da Al-Qaeda no Afeganistão e também contra uma fábrica de produtos farmacêuticos situada no Sudão. Baptizaram a iniciativa de Operação «Alcance Infinito» (Infinite Reach). Convém recordar, entretanto, que, três anos antes do 11 de Setembro de 2001, a comunicação social internacional encarava o terrorismo islâmico em geral e figuras como Osama bin Laden (acima) com uma condescendência que os ataques contra as torres do WTC irão depois alterar radicalmente. Tanto, que hoje já esquecemos essa condescendência. Na foto acima, um momento de uma entrevista dada por bin Laden a uma cadeia televisiva alemã, a imagem captada pelo cameraman (a mão que segura a arma, o entrevistador ao centro e o entrevistado com o mapa mundo por detrás), não teria sido diferente se se tratasse de um filme de propaganda. E não era um fenómeno exclusivo de televisões não americanas: em 1997, a CNN havia-o entrevistado.

É preciso recordar esse pano de fundo de uma comunicação social internacional neutral, senão mesmo hostil, para se perceber uma certa pedagogia cautelosa no discurso em que o presidente Bill Clinton anuncia, nessa noite, o desencadear da operação aos próprios americanos. A opinião pública doméstica não se sentia incomodada, muito menos ameaçada, com os múltiplos atentados atribuídos à Al-Qaeda que são enumerados por Clinton, todos ocorridos no estrangeiro. Mas isso não impediu que, a crer nas sondagens efectuadas, a esmagadora maioria dos americanos apoiasse a iniciativa, muito embora uma apreciável minoria visse nela um expediente para distrair a atenção do escândalo envolvendo Bill Clinton e a estagiária Monica Lewinsky, então numa fase de apogeu mediático. No resto do Mundo, habituado à exuberância de outras intervenções militares norte-americanas, esta, que não teve continuidade nem envolveu tropas, surpreendeu por isso. Em termos de imagens televisivas, os protestos dos países muçulmanos (abaixo, trata-se do Bangladesh) ocuparam o lugar que as concordâncias discretas das opiniões públicas dos países ocidentais não podiam preencher.

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