Quando a rainha Elizabeth II realizou uma visita ao Ulster em 2012 houve quem se apressasse, como de costume, a qualificá-la de histórica. Mas dessa vez, havia motivos que sustentassem que a visita seria diferente das dezanove visitas precedentes: foi a primeira vez em quarenta anos em que não houve razões de segurança que impedissem que a agenda da visita real fosse conhecida com uma certa antecedência. Muitas das cerimónias em que a rainha participou (acima) puderam assim ser engalanadas em conformidade. Concebida com a intenção de sarar as feridas dos The Troubles (1968-1998), dessa agenda constou até um encontro com Martin McGuinness, o vice-presidente por parte do IRA do governo regional da Irlanda do Norte. A comunidade católica do Ulster também terá reagido com a cortesia de quem não culpava a monarca pela descriminação de que se tinha sentido vitima e que terá estado na raiz dos trinta anos de conflitos.
Porque é que eu me lembrei deste episódio já com cinco anos, agora quase esquecido? Foi ontem, quando ouvi o discurso que Filipe VI proferiu a respeito do problema catalão. Sobre ele, o problema, nem tenho a pretensão de prognosticar aqui como vai ser o desfecho, embora creia que a declaração de independência é um excesso que acabará atrapalhando a manobra original de Carles Puigdemont. Sobre ele, o discurso do rei, e quanto às consequências do que Filipe VI disse ontem, fiquei com a nítida sensação que, durante os próximos anos e enquanto a memória do teor do discurso perdurar, se Filipe VI realizar alguma visita ou visitas à Catalunha, elas hão de ser muito parecidas com aquelas que Elizabeth II fazia ao Ulster antes de 2012... Vai ser praticamente impossível formar e formatar uma audiência complacente, sem risco de vaias. O que é irónico, porque há pouco mais de um mês havia sido assim:
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