Edição do Diário de Lisboa de 15 de Outubro de 1977. Para aqueles que já se estivessem esquecido daquilo que era o MSU e do que eles haviam dito há dois meses, o grupo de amigos tornava a atacar, com a colaboração de sempre do vespertino pró-comunista. Se no Verão a «análise» fora sobre «a situação política», no Outono o mesmo exercício incidia agora sobre a «crise política». A situação descambara numa crise. Os factos viriam a provar que os analistas do MSU tinham razão. A crescente fragilidade manifestada pelo executivo socialista (minoritário) de Mário Soares farejava-se no ar. Nessa semana que então terminava - 15 de Outubro de 1977 foi um Sábado - o facto político assinalável fora a demissão de José Medeiros Ferreira, ministro dos Negócios Estrangeiros que, quiçá por causa do seu faro, abandonara o navio. Quanto ao resto do governo, tudo se irá precipitar na derrota da votação de uma moção de confiança que o próprio executivo apresentará na Assembleia da República daí por menos de dois meses (8 de Dezembro). Mas, nem mesmo a presciência a respeito do que não passariam dos incidentes normais da vida de uma democracia parlamentar normal pareciam ter a capacidade de temperar a linguagem de pau deste clube de intelectuais já nosso conhecido (Vitorino, Hasse Ferreira, Brandão de Brito ou Rui Namorado), clube que possui a virtude de, erigido em sigla a quem os jornais davam toda esta notoriedade, nunca ter tido a ousadia de submetê-la ao escrutínio do voto popular. Actualmente, o Daniel Oliveira ou a Raquel Varela não precisam de nenhuma sigla: fazem a festa sozinhos.
A Comissão Política Nacional do Movimento Socialista Unificado esteve reunida nos dias 8 e 9 do corrente, analisando a crise política e económica, o endurecimento e o reforço das posições dos partidos da direita a que chama «a desagregação do Governo do PS e do seu apoio partidário». Sobre estas questões, o Secretariado Nacional do MSU divulgou um comunicado onde, depois de sublinhar que a estratégia do Governo, de combater primordialmente combater o défice financeiro, nomeadamente da balança de pagamentos, não conduziu a qualquer recuperação económica significativa, antes se tendo agravado as dificuldades já existentes que os «pacotes» 1 e 2 não superaram, se acusa a política do FMI de «apontar para a deterioração das condições de vida dos trabalhadores», preconizando «o reforço da dependência face ao estrangeiro e do comprometimento da independência nacional através da contenção do desenvolvimento económico e da opção preferencial de saneamento financeiro».
Segundo o comunicado, com as tentativas de aniquilamento dos sectores público e nacionalizado, sob a égide do FMI, «o Governo PS reinstala o capitalismo de miséria e reconduz o País à dependência dos grandes exploradores nacionais e do imperialismo».
Para o MSU, «uma alternativa de direita ao actual Governo do PS, além de claramente contrária aos interesses dos trabalhadores, rompe definitiva e formalmente o compromisso eleitoral do PS e conduz inevitavelmente à agudização dos conflitos sociais e da repressão».
O MSU considera igualmente que «uma solução política de tipo presidencialista, que passe eventualmente pelo papel determinante da instituição militar, ainda que aparentemente exequível é ilusória e abre o caminho a soluções autoritárias de direita».
O comunicado do MSU conclui com a afirmação de que «só defendendo o projecto constitucional e as conquistas populares do 25 de Abril, a prática da unidade de classe na luta sindical e a unificação política das forças genuinamente socialistas é que é possível oferecer uma frente de resistência à política da burguesia e construir no concreto uma alternativa de Poder político, económico e social que viabilize a transição para o socialismo, aspiração justa e actual da maioria do Povo Português».
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