Depois das indignações antifascistas nas redes sociais do fim de semana transacto terem ficado muito aquém do esperado por dispersão por outras causas indignantes como os incêndios, no fim de semana que se aproxima poder-se-á assistir a uma transição das atenções - e indignações - eleitorais da Áustria para a vizinha República Checa. Ao contrário do primeiro caso, neste segundo país que vai a votos no próximo fim de semana, o panorama partidário é mais repartido e não existe um grande partido fascista (FPÖ) que recolha 27% dos votos, daqueles onde apeteça malhar, para recuperar a inolvidável expressão de Augusto Santos Silva. O melhor que se pode arranjar para as franjas anti-sistema é um médio partido comunista (KSČM, que recolheu quase 15% dos votos nas últimas eleições), mas que são comunistas daqueles puros e duros como o pessoal do Avante! gosta, que nem levam a mal aquela invasãozinha de 1968; e ainda um menor partido de extrema-direita denominado SPD, que resulta de dissidências noutras formações, que se vai estrear em eleições e cujas sondagens (acima) atribuem um resultado abaixo de 10% mas seguramente com representação parlamentar. Como o exotismo parece impregnar a extrema-direita europeia moderna, com uma profusão (nunca devidamente realçada) de lésbicas e homossexuais entre os seus dirigentes, também aqui no SPD checo, formação nacionalista e mesmo xenófoba, se exercita o paradoxo de ser liderado por alguém de ascendência mista: checa e japonesa. Mas o aspecto mais interessante das eleições que se aproximam relaciona-se com o partido que tem liderado as sondagens, o ANO 2011, e o seu líder Andrej Babiš. Este último apresentar-se-á às eleições já depois de ter sido formalmente acusado de fraude na obtenção de subsídios comunitários, o que aconteceu no princípio deste mês. Para isso acontecer, no mês anterior, havia sido o parlamento checo a despojá-lo da imunidade parlamentar. E, para quem considerasse que tudo isto não passava de uma manobra de baixa política de última hora, constata-se que a investigação já datava de 2015 e que envolvia desde o princípio o próprio Organismo Europeu de Luta Antifraude. Se na imprensa internacional há quem compare Andrej Babiš a Sílvio Berlusconi ou a Donald Trump, prefiro recorrer a um outro exemplo mais doméstico, e constatar que a República Checa se arrisca a transformar-se num gigantesco concelho de Oeiras, elegendo um escroque ao jeito de Isaltino Morais para a dirigir. Estou para apreciar como será o volume de indignação das redes sociais a respeito do resultado das eleições checas, quais são as prioridades de quem se indigna: um aldrabão ou um fascista?
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