A minha primeira dúvida - e que não aparece esclarecida em lado algum - foi o que esteve por detrás desta rajada de entrevistas dadas por Jean-Claude Trichet a órgãos de comunicação portugueses. Os títulos escolhidos por estes últimos para as encimar, esses são mais do que previsíveis: "Portugal tem de avançar nas reformas estruturais", “Não é hora de complacência, ainda há muito trabalho a ser feito”, “Estou confiante, sem ser ingénuo” ou então este acima: "Se Portugal tivesse cumprido as regras europeias não tinha havido crise". Como o vinil voltou e é agora trendy, creio que também se pode recuperar a metáfora do disco riscado, que é o que o discurso de Trichet parece, mais a sua conversa das reformas estruturais para as quais já não há pachorra depois de seis anos e meio à espera de um programa concretizando em que é que elas consistem (quatro e meio de Passos Coelho e dois anos de Costa). Sobretudo custa ouvir a um francês atribuir as culpas da crise ao incumprimento das regras europeias por Portugal, quando há nove anos que o seu próprio país não as cumpre! (O gráfico acima assinala os défices orçamentais da França desde 2007. O risco a vermelho assinala a fronteira de 3% do incumprimento que se prolonga desde 2008 - e a França tem escapado às sanções porque, como disse Jean-Claude Juncker: a França é a França. Dita por Trichet ou por outro palerma qualquer, dispensa-se a hipocrisia...)
Só pode. O fulano está mesmo a gozar connosco.
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