22 outubro 2017

O REGRESSO DA KREMLINOLOGIA?

A expressão kremlinologia perdeu popularidade porque já não há Kremlin. Mas há uns cinquenta anos e porque a queda de Nikita Khrushchev resultara de uma conspiração de bastidores maquinada pela confederação de sensibilidades que compunha a oligarquia soviética, houve a necessidade de criar-se a disciplina da kremlinologia, traduzindo para os leitores aquilo que era a opacidade do vértice do poder soviético. Era preciso conhecerem-se os nomes, não apenas o de Brejnev, o líder do partido, Kossygin, o chefe do governo, ou ainda Podgorny, o chefe de Estado, mas ainda os de Gromyko, o homem dos negócios estrangeiros, ou Suslov, o ideólogo (é o que aparece no cartaz da fotografia abaixo). Era preciso alguém que ouvisse os seus discursos soporíferos, formatados nas fórmulas tradicionais, e dali produzisse uma síntese (no caso disso valer a pena). Nenhum dos kremlinólogos se terá apercebido, nem mesmo com Gorbachev, do quanto tudo aquilo estava apodrecido por dentro. Não estranho que tivesse sido assim: é contranatura o analista aperceber-se do desaparecimento do seu ganha pão. Agora reaparece o mesmo método, só que aplicado ao PSD e às suas figuras gradas. A sério, eles lá no Observador acham que, se Vítor Matos não mo «descodificar e comentar», eu não consigo compreender o sentido de um discurso de Passos Coelho? Ele também fala em russo?...

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