09 dezembro 2023

O TREINADOR, OS PAINELEIROS E A TURBA

Começo por admitir que tendo a avaliar os treinadores que passam pelo futebol doméstico por um critério que reconheço ser não apenas simples mas até primário: apreciar qual é a sua disponibilidade para se exprimirem na língua local. Mas, por experiência, o critério tem-se revelado indicador precioso do quanto esses treinadores europeus (os brasileiros estão descontados, obviamente) estarão dispostos a investir pessoalmente durante a sua passagem pelo futebol português. E, nesse aspecto, Roger Schmidt, o actual treinador do Benfica é um fiasco - recorde-se o contraste com um dos seus longínquos antecessores, o sueco Sven-Göran Eriksson, a que aqui me referi no blogue. Não é o caso de Schmidt que, com o seu inglês de sotaque teutónico, passa uma imagem subsconsciente de gauleiter ou de obersturmbannhführer, que os traumas da Segunda Guerra Mundial demoram muito mais do que oitenta anos a passar. Mas é precisamente perante este quadro de completa falta de empatia por ele, que o venho elogiar por causa da atitude que o vi assumir ontem à noite, depois de um resultado negativo do Benfica no seu estádio - empatou com o Farense. Mesmo sem ser seguidor, já me tinha apercebido que os programas televisivos dos paineleiros - que tinham acabado, mas não acabaram - se tinham vocacionado, os paineleiros, para se pronunciarem, definitiva e assertivamente, sobre e contra as opções tácticas do treinador Schmidt: eles é que sabem quem devia jogar e onde é que devia jogar; as opções do treinador estão erradas e é por isso que a equipa não rende. A turba que assiste àquilo na televisão, não perceberá um corno do assunto, mas acha que sim, sobretudo se o Benfica não ganha. Ontem, a turba tinha ido à bola, as coisas estavam a correr mal para o Benfica, Schmidt vai fazer duas substituições, uma delas de um daqueles jogadores que os paineleiros gostam, e foi o bom e o bonito! E Roger Schmidt não gostou e demonstrou corajosamente no fim do jogo (notícia acima) que não está para aturar aquilo! Em primeiro lugar, começou por esclarecer algo que é intuitivo para qualquer alemão, que quem dirige a equipa é ele: é o Führerprinzip. Em segundo lugar, que quem vai para o estádio para vaiar e assobiar a equipa devia ficar em casa, as grandes manifestações colectivas não são para isso, é para se manifestar uma grande unanimidade, como acontecia em Nuremberga. Em terceiro lugar e sobretudo, e é por isso que aqui o destaco e enalteço, que se for para ser treinador do Benfica em conjunção com um punhado de paineleiros que influenciam uma turba de imbecis, então ele mostra-se publicamente disponível para deixar o Benfica. Dificilmente encontrarei um elogio mais lusitano do que este: é um obersturmbannhführer que os tem no sítio.

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