Com esta que aparece acima, já é a segunda vez em menos de um mês que Marcelo abandona aquela sua tradicional verborreia a propósito de tudo e invoca, despropositadamente, idas a tribunal. Quando aquilo que está a alimentar o desconforto a respeito do caso do tratamento pelo SNS das gémeas luso-brasileiras é a incapacidade dos jornalistas em obterem explicações concludentes para que o processo de tratamento tenha decorrido da forma como decorreu. O ponto principal no assunto, como aliás já aqui deixei expresso a propósito dos comentários solidários e evasivos da antiga ministra da Saúde, é encontrar quem nos possa explicar quem foi o responsável por que o tratamento se tivesse efectuado, sobrepondo-se às opiniões dos médicos do serviço onde esse tratamento teve lugar. É aí que se nota - para mim, indiscutivelmente - que terá havido a tal «pressão» que o presidente nega ter exercido. Outra maneira colateral de detectar que tal «pressão» terá existido e que era eficaz, é que, no meio de uma burocracia tradicionalmente relutante em dávidas, em vez de um par, terão aparecido dois ou três pares de cadeiras ortopédicas para as mesmas gémeas. Se algumas dúvidas houvesse que não se está perante um episódio de duas pacientes normais do SNS, creio que este milagre da multiplicação das cadeiras eliminará essas dúvidas. Ora bem, apesar das investigações sobre as tramitações burocráticas do caso terem envolvido, para além do presidente da República (Marcelo Rebelo de Sousa), o primeiro-ministro (António Costa), a ministra da Saúde (Marta Temido), o secretário de Estado da mesma pasta (Lacerda Sales), a secretária de Estados das Comunidades (Berta Nunes) ou o presidente do CA do hospital de Sta. Maria (Carlos Martins), a verdade prosaica é que as conexões familiares da família das gémeas vão todas ligar-se à família e à pessoa do presidente da República. Até agora não se encontrou outra conexão possível que justifique um tratamento tão anómalo por parte da burocracia do SNS. Não nos parece razoável antecipar conclusões, tanto mais que se detecta um muro de silêncio à volta do assunto - e quando se fala dele, como o fez Marta Temido, é só a fingir que se fala. Mas, se Marcelo não tivesse sentido que o seu nome fora invocado a despropósito, e estando nós há décadas habituados à sua loquacidade, não seria de esperar ouvi-lo a dissertar criticamente, tanto mais quando teria razão para o fazer? Isto é o que se esperaria do Marcelo, segundo a imagem que ele nos tentou vender. A imagem de um Marcelo que, já por mais de uma vez, nos anda a brandir tribunais é a de alguém que (pelo menos) deixou que lhe metessem a pata na poça por ele, e para concluir isso não é preciso tribunal algum.
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