07 dezembro 2023

A «FADIGA ESPIRITUAL» QUE PODE AFECTAR OCASIONALMENTE CHEFES DE GOVERNO

7 de Dezembro de 1953. De Telavive vinha a notícia que o primeiro primeiro-ministro de Israel David Ben Gurion se demitira naquele dia por «fadiga espiritual». Complementava a notícia o anúncio da intenção de Ben Gurion «se retirar, como pastor, para as montanhas do Negev». Ao anúncio sucederam-se fotografias bucólicas do venerando primeiro-ministro de 67 anos em trabalhos manuais no kibbutz para onde se retirara. Esta narrativa idílica de contornos açucarados tinha uma outra realidade por detrás, uma disputa entre duas facções dentro do próprio executivo israelita, a facção encabeçada por Ben Gurion a ser tida como o mais aguerrida no conflito com os países árabes vizinhos (tradicionalmente classificada como a dos falcões), contra a facção encabeçada pelo novo primeiro-ministro Moshe Sharett, mais moderada (pela mesma terminologia simplista: as pombas). Note-se que ambos pertenciam ao mesmo partido político, o Mapai. Os acontecimentos viriam a mostrar que a «fadiga espiritual» de Ben Gurion, mais a sua ambição de se retirar para ser um mero «pastor» fora uma tentação passageira. Ele voltou ao governo em Fevereiro de 1955 (14 meses depois...) como ministro da Defesa, e mais 9 meses decorridos, em Novembro de 1955, Gurion voltaria mesmo a substituir Sharett à frente do governo, dessa vez até Junho de 1963. E, para aqueles que, com a leitura deste poste se possam estar a lembrar de alguma analogia com a actual situação política portuguesa, nomeadamente com aquela passagem acima «... todo o Gabinete, que, (...), permanecerá no Governo, provisoriamente», gostaria de assegurar que esta publicação neste momento não terá sido uma mera coincidência.

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