31 agosto 2016

SOBRE AS VANTAGENS OCASIONAIS DA SUPERFICIALIDADE DE CERTAS OPINIÕES

Quando há coisa de uns dias ouvi João Miguel Tavares comparar desfavoravelmente a prestação dos atletas olímpicos de Portugal com - ao calhas - os da Nova Zelândia no Jogos do Rio de Janeiro limitei-me a encolher os ombros, numa saudação típica ao comentário despropositado do tudólogo televisivo. Para aferição das expectativas do número de medalhas conquistadas, comparava ele as respectivas populações (onde a portuguesa é mais do dobro da neozelandesa), em vez de se ter dado ao trabalho de ter ido ver qual era a dimensão das respectivas comitivas olímpicas, onde, por acaso, até era a neozelandesa - na foto acima, na cerimónia de abertura, composta por 199 atletas - que era mais do dobro da portuguesa - 92. Como não fomos todos ao Rio de Janeiro, é provável que a partir da dimensão das comitivas se compreendesse melhor porque é que os atletas da Nova Zelândia ganharam mais medalhas que os portugueses. A opinião original de João Miguel Tavares até seria defensável, a comparação de que se socorreu é que era um desastre. O elenco do programa Governo Sombra já é habitual ser assim desequilibradamente característico: Pedro Mexia é inteligente e é culto, Ricardo Araújo Pereira é inteligente e João Miguel Tavares é.
Atenção: ser-se pode ter as suas vantagens ocasionais quando da abordagem de certos problemas. Há na candura de se ser aquela dose de primarismo ingénuo, que nunca se sabe se é genuíno ou forjado, e que reduz os problemas - nesse caso com vantagem - à sua essência mais simples. Nunca mais esqueço, agradecido, uma contagem que foi feita por João Miguel Tavares há três anos, onde ele enumerava a razia que terá sido feita à época nos quadros do Diário de Notícias pelo anterior governo PSD/CDS, rompendo uma muralha de silêncio que protege tradicionalmente as notícias das transumâncias jornalísticas em caso de mudança da cor do governo. Só lhe faltou chamarem chibo... Para o que interessa neste texto que já se alonga demais, este fim-de-semana João Miguel Tavares voltou a brindar-nos com um desses textos inquisitivos sobre a sua classe, a dos jornalistas. Desta vez a abordagem não se concentra num órgão de comunicação em particular, mas numa subespecialização que se tem alcandorado por força das circunstâncias a um estatuto especial: a dos jornalistas económicos. A questão chã, que eu não consigo colocar nos termos em que João Miguel Tavares o faz abaixo por causa do meu cinismo, é porque é que nenhum deles conseguiu antecipar o descalabro do sector financeiro português.
Apetece-me perguntar para lá de todo este lirismo (que não subscrevo), se todo este elenco de jornalistas económicos (os mencionados por João Miguel Tavares e ainda outros nomes que ele esqueceu) se vem a revelar, depois de tudo o que está a acontecer, de uma inocência de Jesus Cristo, e que, copiando os inesquecíveis e inspirados versos de Fernando Pessoa, também eles não percebem nada de finanças, nem consta que tenham biblioteca...

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