09 agosto 2016

AINDA E SEMPRE AS MAIS AMPLAS LIBERDADES DEMOCRÁTICAS


Dmitri Shostakovich morreu neste dia 9 de Agosto de 1975, há precisamente 41 anos. Por cá, estávamos tão entretidos com o PREC e as possibilidades de sobrevivência do V Governo provisório (que fora empossado no dia anterior), que ninguém terá prestado grande atenção ao facto. E todavia, Shostakovich era considerado um dos maiores expoentes musicais de uma das facções que então se disputavam cá por Portugal, aquela que pugnava pelas mais amplas liberdades democráticas. Muitos anos depois os factos mostram quão relutante e em que bases frágeis assentava o expoente e quão ilusivas seriam as tais amplas liberdades democráticas:

Quando Dmitri Shostakovich atendeu o telefone num certo dia de Março de 1949, disseram-lhe para aguardar: o camarada Estaline queria falar-lhe. Estaline mostrava-se surpreendido por Shostakovich ter declinado um convite para ir a uma conferência cultural pela paz em Nova Iorque. Shostakovich respondeu-lhe que tinha andado enjoado. Estaline fingiu acreditar na história e sugeriu-lhe que fosse ao médico. Mas o enjoo de que padecia devia-se ao facto de que a sua música, assim como a dos seus colegas Sergei Prokofiev e Aram Khatchaturian, ter sido banida na União Soviética há mais de um ano.
Silêncio do outro lado da linha. De um lado o ditador, do outro o artista. O primeiro condescendeu. Disse que desconhecia que os artistas haviam sido censurados e que teria que corrigir os camaradas que haviam dado essa ordem ilegal. No dia seguinte os infelizes censores foram castigados. E Shostakovich seguiu para Nova Iorque.

Esta é uma transcrição traduzida do inglês de um trecho de um livro que foi publicado originalmente em 1979 em russo pelo musicólogo soviético Solomon Volkov. Mais recentemente o mesmo tema foi recuperado, e em Junho deste ano foi publicado entre nós O Ruído do Tempo, a tradução de um romance de Julian Barnes, baseado na vida do compositor. Não o li mas foi-me bastante recomendado. Para que não se apague a Memória.

Sem comentários:

Enviar um comentário