09 agosto 2016

NÃO HAVIA NECESSIDADE... AS ATLETAS SÃO UMAS BOAS ATLETAS, OS MINISTROS É QUE NEM TANTO...

A primeira vez que me lembro de uma cena parecida, foi há vinte anos, nos Jogos Olímpicos de Atlanta, a medalhada foi Fernanda Ribeiro e o ministro mandatado para se ir encostar ao sucesso o inconfundível e estimável Jorge Coelho. A cena em si permanece memorável: as câmaras de TV a aproximarem-se do encontro entre a atleta e o ministro, a conversa que havia naturalmente morrido depois da troca das (poucas) palavras de circunstância e um Jorge Coelho que se sente obrigado a ressuscitá-la (à conversa) por causa da aproximação das televisões com um muito pouco convincente sim senhor, sim senhor... Tiago Brandão Rodrigues afigura-se um sucessor digno de Jorge Coelho na falta de jeito... olímpico para lidar com a mesma cenografia. Acredito que Tiago Brandão Rodrigues seja genuinamente o entusiasta que as notícias proclamam que é que já há quatro anos ele havia acompanhado os jogos de Londres como adido local da comitiva portuguesa. Mas as circunstâncias não se podem, não se devem, nem se conseguem repetir. Como acontecia outrora com Jorge Coelho, ele agora é o ministro com a tutela do desporto e não pode (nem poderia mesmo que tentasse) passar desapercebido. Depois do azar de ser notícia por ter sido assaltado na rua, ainda conseguiu estragar ainda mais os efeitos da desdita, com a sua tentativa assaz desastrada de minorar o incidente: Aconteceu tudo de uma forma muito natural..., como se, por implicação, fizesse parte dos roteiros turísticos cariocas sofrer um assalto na rua, qual complemento a uma visita ao Corcovado*. Agora, quem trata da imagem do ministro, quis descrevê-lo tenso durante o combate da atleta Telma Monteiro que culminou com a obtenção por esta última da medalha de bronze, quiçá a tensão que o ministro não tinha experimentado enquanto era (naturalmente) assaltado... Não sei se esta operação de imagem será mesmo assim tão importante, mas o ministro põe-se a jeito e, como diria o diácono Remédios: não havia necessidade...
* Helena Matos usou o mesmo artigo da Visão a que aqui me refiro para colecionar um prontuário de eufemismos que se usaram para descrever o assalto e os desenvolvimentos.

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