14 agosto 2016

AQUELAS COISAS DESAGRADÁVEIS QUE TÊM QUE SE DIZER

Portugal é um dos países em que, pela sua História, mais facilmente explicará de forma legítima e natural a diversidade étnica dos seus selecionados, mormente os de ascendência africana. Já há 50 anos e em futebol, a equipa dos Magriços contava com 4 em 11: Coluna, Eusébio, Hilário e Vicente. A descolonização e a globalização apenas tornaram o processo mais complexo, recupere-se o caso emblemático, agora já no atletismo, de Nelson Évora, que nasceu na Costa do Marfim e cujos pais são oriundos de Cabo Verde e que veio a adoptar a nacionalidade portuguesa com a qual se sagrou campeão olímpico no triplo salto. Ontem descobri mais um(?) desses casos, através da publicidade dada à participação da atleta portuguesa Lorène Bazolo na corrida de 100 metros, do atletismo olímpico. Não sei é se o caso será assim tão análogo. Note-se que o atletismo é uma disciplina acossada por cada vez mais estranhas mudanças de nacionalidade, casos embaraçosos de notoriedade mundial são, por exemplo, os dos fundistas africanos de países como o Quénia ou da Etiópia que subitamente descobrem vocações pátrias por nações como a Turquia ou por países do Golfo Pérsico como o Bahrein ou o Qatar. Exemplo maior dessa cada vez superior mobilidade das pessoas será o caso de Wilson Kipketer, campeoníssimo dos 800 metros, atleta dinamarquês, nascido no Quénia e patrioticamente residente no Mónaco por razões fiscais.
Não sei é em que é que o caso de Lorène Bazolo se diferenciará em utilidade destes últimos. Lorène Bazolo tem já 33 anos e, até Maio passado, era congolesa. Segundo se lê na Wikipedia, estava em Portugal com o estatuto de refugiada política desde 2013 onde, desde 2014, compete pelo Sporting. Num artigo que a apresenta de princípios de Junho deste ano, queixa-se de descriminação tribal no seu país de origem (...perseguida pelo facto de pertencer a uma tribo diferente das pessoas que passaram a mandar lá). É um discurso pouco compatível com o facto de ela ter tido a honra de ter sido a porta-bandeira da delegação congolesa na cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Londres em 2012 (como se vê na fotografia inicial). Nesse mesmo artigo, e isso já não será culpa dela mas antes do jornalista que o escreve, acrescenta-se a descrição de um futuro prometedor de hipotéticas medalhas para Portugal, nos campeonatos europeus e nos jogos olímpicos, que as realidades infelizmente vieram a desmentir. Eu bem sei que os tempos modernos já não se caraterizam pela rigidez dos patriotismos de outrora, mas tenho que confessar que esta transumância de nacionalidades se pode tornar chocante. Há que traçar uma fronteira deontológica entre o que é aceitável e o que o não é. E posso assegurar que o número de medalhas conquistadas pelos transumantes é indiferente para essa separação - por alguma razão há várias modalidades desportivas que restringem as condições da representação do mesmo atleta em mais do que uma selecção nacional...

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