22 agosto 2016

AS CONTAS DO COSTUME

Todas as olimpíadas, de quatro em quatro anos, lá vem o quadro recalculando a atribuição das medalhas com o lirismo - e a ignorância - do costume. O exemplo canónico é o da União Europeia, cujos atletas agregados no Rio de Janeiro terão ganho quase o triplo das medalhas da equipa dos Estados Unidos. Também existe uma outra versão, igualmente lírica mas mais nostálgica, que é a de somar as medalhas alcançadas pelos atletas dos países da antiga União Soviética. Também aí, o resultado hipotético, com as 142 medalhas conquistadas, seria superior ao dos Estados Unidos. É um cálculo engraçado, mas quem conheça um mínimo de regras olímpicas, sabe que quaisquer conclusões que se queiram extrair do exercício, arriscam-se a ser um disparate. O busílis está nas condições de acesso aos jogos. Se concorressem unificadas, a União Europeia ou a União Soviética, como acontece com os Estados Unidos, apenas poderiam apresentar uma selecção por cada modalidade. A selecção da União Europeia até poderia ganhar o torneio de andebol masculino mas não poderia conquistar simultaneamente as medalhas de ouro (Dinamarca), prata (França) e bronze (Alemanha). A acrescer a isso, cada modalidade limita o número de atletas de cada equipa que podem competir em cada evento desportivo: são, por exemplo, três no atletismo, dois na natação, um na vela. Assim, a disputa travar-se-ia muito mais acirradamente na pré-selecção para os jogos (que é o que acontece com a equipa norte-americana) e dificilmente, apenas para concretizar a ideia, os seis (que aí já poderiam ser apenas três) concorrentes soviéticos à categoria de 105 kg da halterofilia masculina poderiam ter o aspecto sortido daqueles que foram os medalhados: um usbeque (ouro), um arménio (prata) e um cazaque (bronze). Em suma, nessas simulações não se comparam dados semelhantes. Uma hipotética equipa olímpica da União Europeia ou da União Soviética ressuscitada não teriam tido condições de alcançar os mesmos resultados que o somatório das equipas nacionais. Os ciclos olímpicos passam, as contas repetem-se, prestam-se estas mesmas explicações, e o que ainda não descobri se será por ignorância ou por malícia que nunca vejo esta ressalva assinalada...

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