Sentenças judiciais inopinadas podem tornar-se pretexto para nos lembrarmos de como Portugal já terá sido em outras eras... geológicas. A explicação do enquadramento de uma notícia de uma dessas sentenças recentemente emitida pelo Tribunal Europeu dos Direitos do Homem remete-nos para um Portugal de que não reconheceríamos nem flora nem fauna, em que era Santana Lopes que estava dentro do círculo do poder como primeiro-ministro, e em que era Marcelo Rebelo de Sousa que circulava à volta desse círculo, acossado por um sempre devotado e apatetado Rui Gomes da Silva que nessa época ainda exercitava as suas (fracas) capacidades na política activa, como homem de mão do primeiro-ministro. A frase
«O primeiro-ministro mandou, um tanto ou quanto covardemente, o seu mais fiel servidor, Rui Gomes da Silva, ministro dos Assuntos Parlamentares, acusar Marcelo de mentiroso e deturpador, ameaçando com queixas à Alta Autoridade. Será um delírio provocado por consumo de drogas duras, uma nova originalidade nacional ou apenas um disparate sem nome?»
publicada na revista Visão e assinada pelo jornalista Filipe Luís em Outubro de 2004, veio a provocar uma condenação da revista e do autor do artigo por danos morais, remidos por uma indemnização de trinta mil euros. Foi essa condenação, decidida inicialmente pelo tribunal de Oeiras e depois confirmada pelos dois tribunais das instâncias superiores (Relação e Supremo), que veio agora a ser contrariada pelo Tribunal Europeu dos Direitos do Homem, condenando por sua vez o Estado português. Mas recordar uma vida política em que Rui Gomes da Silva tinha responsabilidades para além dos penaltis que, segundo ele, os jogadores do Benfica nunca cometem, é como recordar como seria a Terra no Devónico (há 400 milhões de anos), época em que, para além da flora luxuriante, só os mares eram habitados e apareceram os primeiros anfíbios em terra...
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