Perdido bem no interior do Sri Lanka, o monumento da esquerda assinala a vitória do exército do reino cingalês de Kandy sobre um exército português comandado pelo governador Constantino Sá de Noronha na batalha de Randenivela que ocorreu há precisamente 386 anos. Num retoque irónico, quem celebra a vitória são os cingaleses, mas quem melhor descreve a batalha são fontes portuguesas e é a elas que a propaganda nacionalista cingalesa hoje recorre para detalhar como foi o feito das suas armas. Pelas descrições, as forças portuguesas seriam um clássico exército colonial, com uns 400 a 500 europeus (que seriam na sua esmagadora maioria portugueses) a enquadrar uns 13.000 soldados locais. Do outro lado, os efectivos do exército de Kandy são estimados em 40.000 (os números podem estar empolados porque por uma questão de reputação os portugueses nunca perderiam batalhas em que não defrontassem um inimigo numa desproporção inferior a 1 para 3...). Encurtando a história da batalha, terá havido traições de algumas unidades ao serviço dos portugueses mas a razão principal para a derrota portuguesa dever-se-á ao acaso. Terá sido a chuvada torrencial inesperada que lhes retirou a superioridade tecnológica das armas de fogo, ensopando-lhes a pólvora. E no entanto, os relatos da campanha são consequentes em reconhecer a competência e a experiência de Constantino Sá de Noronha, que até escolhera o mês mais seco (veja-se o quadro meteorológico abaixo) para entrar em operações. Mas, com um dos antagonistas desprovido do seu poder de fogo, os efectivos superiores e o poder de choque do outro terão pesado decisivamente no desfecho da batalha.
A batalha terminou com o aniquilamento total do exército português e com a morte de Constantino Sá de Noronha. Há nos relatos dos momentos finais uma semelhança marcante com Alcácer Quibir, que acontecera 52 anos antes. Também aqui no Sri Lanka, como acontecera em Marrocos, o desfecho da batalha pode ser assinalado como um dobre de finados das ambições portuguesas em constituir uma possessão com profundidade territorial na ilha de Ceilão, diferente das feitorias e praças-fortes (Goa, Malaca, Ormuz, Macau) que então constituíam o esteio do império marítimo português no Oriente. 25 de Agosto de 1630 poderá ter sido um dia negro para as armas portuguesas, mas parece-me um daqueles casos em que nos devemos orgulhar, nem que seja ao descobrir até onde alguns de nós foram na busca - mesmo por vezes inglória - do sucesso...
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