01 setembro 2014

JERUSALÉM


Jerusalém é um dos hinos mais emblemáticos do imperialismo britânico, composto quando este ainda batalhava pela supremacia mundial (1916), numa luta (a Primeira Guerra Mundial) que o iria ironicamente deitar a perder. É recordado anualmente na tradicional última noite dos concertos Promenade conjuntamente com peças irmanadas na intenção, como Rule, Britania! ou Land of Hope and Glory. O compositor deste hino chama-se Hubert Parry embora a letra tivesse sido escrita mais de cem anos antes, em 1804, por um poeta chamado William Blake¹. Quase ninguém os conhecerá fora de Inglaterra mas isso nunca pareceu incomodar os ingleses.

Tal será a importância que é atribuída ao hino – proposto para se tornar o hino da Inglaterra propriamente dita – que esta outra versão acima, modernizada e incluída pelos Emerson, Lake & Palmer no seu álbum de rock progressivo Brain Salad Surgery de 1973 veio a ser proibido de passar na rádio britânica. Contudo, há que confessar a ironia que, uns poucos anos antes (1969), e praticamente ao mesmo tempo quando considerado o tempo de chegada destes fenómenos a Portugal, vi o hino ser completamente destroçado naquela sua solenidade pretensiosa num sketch dos Monty Phyton que se exibe abaixo (com legendas em italiano).

Resumindo-o: um casal recém-casado vai a uma loja comprar uma cama. Um dos empregados multiplica sistematicamente os números por dez. O outro divide-os sistematicamente por três. Pior que isso, este último ao ouvir a palavra colchão enfia um saco de papel na cabeça e só o retira após porfiados esforços dos colegas cantando o tal hino Jerusalém dentro de um caixote de chá. O noivo repete o erro, porque o empregado pode pronunciar a palavra fatídica, não a pode é ouvir. À terceira vez, a cena acaba com a noiva lamentando-se que é a sua única fala. Reconheça-se que parte da piada do sketch perder-se-ia se o hino não fosse tão pomposo.

¹ And did those feet in ancient time
Walk upon England's mountains green:
And was the holy Lamb of God,
On England's pleasant pastures seen!

And did the Countenance Divine,
Shine forth upon our clouded hills?
And was Jerusalem builded here,
Among these dark Satanic Mills?

Bring me my Bow of burning gold;
Bring me my Arrows of desire:
Bring me my Spear: O clouds unfold!
Bring me my Chariot of fire!

I will not cease from Mental Fight,
Nor shall my Sword sleep in my hand:
Till we have built Jerusalem,
In England's green & pleasant Land.

2 comentários:

  1. Só os ingleses conseguem fazer estas coisas.
    Todas elas.
    O seu post teve, para além de algumas belas gargalhadas e alguma nostalgia do tempo em que a TV transmitia os Concertos Promenade, um efeito colateral.
    Fui a correr à minha "velhinha" prateleira de vinil e estou agora a ouvir Pictures at an Exhibition e a seguir vai o Tarkus, coisas que não ouço há anos.
    Bem haja

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  2. De nada. Que me perdoe a autopromoção mas uma vez já usei essa mesma peça musical de Mussorgsky para banda sonora de um texto sobre o último (e único) censo russo da era imperial (http://herdeirodeaecio.blogspot.pt/2011/11/o-unico-censo-russo-da-era-imperial.html)

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