11 setembro 2014

«A FESTA DA VIDA»


No último confronto televisivo entre os três candidatos à liderança [Passos, Aguiar Branco e Rangel], condicionámos o debate. (…) Antes do debate, já tínhamos tweets preparados para complicar a vida ao Rangel. Nos primeiros minutos, começámos a tuitar como se não houvesse amanhã, dizendo que o Rangel estava nervoso e mais fraco do que o esperado. Criou-se um ambiente negativo que se propagou rapidamente. (…) Até opinion makers repetiam o que dizíamos! E o debate tinha apenas começado...

Há cerca de uns dez meses, um certo mundo fechado que vive na e para a internet viu-se subitamente sacudido pelas declarações públicas de um consultor de comunicação que, numa entrevista, explicava como se constituíra uma task force que sustentara mediaticamente a ascensão de Pedro Passos Coelho ao poder, primeiro no PSD, depois no país. Entre as dúvidas a respeito da verosimilhança de algumas passagens do que era contado e a leitura das indignações daqueles que protestavam a sua inocência do seu envolvimento às facetas menos confessáveis da manobra, sobressaía, mesmo assim, a fragilidade de como se pode formar a opinião publicada, como se lê acima naquela passagem da entrevista. Sob esta suspeita de terem sido encornados, mandaria o bom senso e a defesa da sua reputação que aqueles órgãos de comunicação que se alimentam dos despojos dos debates políticos adoptassem uma atitude mais prudente e sóbria a partir daí, que procurassem restabelecer com o espectador a confiança entretanto abalada por aquelas revelações. Mas não: para as direcções de informação, os espectadores interessados nestes assuntos serão não só estúpidos - note-se como os programas são alinhados imediatamente depois dos debates terem tido lugar - como têm falta de memória. Como apêndices destes dois últimos debates televisivos travados em dias consecutivos por António José Seguro e António Costa, a festa dos comentários das televisões reteve o figurino de sempre, comentadores que não a confessam mas também não sabem disfarçar as suas simpatias por uma das partes, as superficialidades, o tradicional concurso para ver quem é que apresenta a ideia mais descabeladamente original da noite. A Festa da Vida, enfim.

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