Apesar de regressado ao país em 1969, em finais da década de oitenta Agostinho da Silva permanecia a figura desconhecida do grande público que sempre fora até que um encadeamento de aparições televisivas na RTP (emissora então única), culminando com uma série de treze entrevistas (e treze entrevistadores) em outros tantos programas denominada Conversas Vadias, o ter catapultado para a notoriedade e o estrelato televisivo como grande comunicador, portador de um discurso filosófico riquíssimo, mas de onde pouca gente chegava a retirar substantivamente alguma coisa. É sob esse ambiente de Agostinho da Silva: É o que está a dar! que surge este cartoon de Rui (1989), onde uma turba anónima lhe pedia a mensagem como se isso fosse o propósito último deste octogenário tornado subitamente numa superstar, de que todos diziam gostar mas a que muito poucos prestariam efectivamente atenção. Mas, neste pedido massivo, simbólico e inédito de uma mensagem pela primeira vez conseguiu-se ver a máquina televisiva a alçar alguém àquele estatuto televisivo em que se torna venerando mau grado o perigo da senilidade e mesmo que aquilo que diga seja inventado (José Hermano Saraiva), repetitivamente trivial (Adriano Moreira) ou até mesmo ridículo (Mário Soares). Num mundo ideal, as pessoas venerandas deveriam ser preservadas de aparições caricatas mas, parafraseando Eurípedes, os deuses tornam sedentos de protagonismo aqueles que querem expor ao ridículo.
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