Uns corresponde à primeira pessoa do plural em alemão, o equivalente a nós em português. Trata-se de uma palavra, porém, que os alemães tendem a tratar de modo elástico. Atente-se à fotografia acima, datada da Primavera de 1945 e do colapso do III Reich, quando a propaganda nazi já se via obrigada a exprimir nas suas formas mais elementares como esta pichagem de um slogan numa parede semi-destruída: Nichts für uns, alles für Deutschland (Nada para nós, tudo para a Alemanha). Repare-se o conceito transviado daquele nós, como se, para quem a escreveu, a Alemanha fosse uma coisa distinta dos alemães a quem a mensagem procurava arregimentar. E é engraçado recordar estes entorses à semântica quando se anotam as opiniões de Wolfgang Schäuble em artigo hoje publicado no Financial Times, onde propõe uma ainda maior integração dos países pertencentes à zona Euro, com a criação de um parlamento conjunto e um cargo de comissário europeu para o Orçamento, com poderes para rejeitar os orçamentos nacionais, caso eles não correspondam às regras que nós acordámos em conjunto. Aparece-nos aqui um outros nós (o tal uns) de entendimento germânico/transviado. Wolfgang Schaüble poderá acordar as regras que lhe convier, mormente com os seus homólogos Vítor Gaspar ou Maria Luís Albuquerque, mas conviria ele perceber que, em Democracia, é num outro nós (o tal a que os nazis mais acima não concediam nada) que reside a Soberania. Um parlamento nacional democraticamente eleito a aprovar um orçamento é uma das suas expressões. Acho fundamental que os vários nós dos países da União (e da zona Euro) possam salvaguardar a sua vontade de mudar livremente de opinião quanto ao que previamente acordaram e quando o entenderem.
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