29 setembro 2014

«КУНЪЯЛ ЖИВЕТ !» (Kun'yal Zhivet - Cunhal Vive!)


No mesmo dia em que mais uma(!) estátua de Lenine é derrubada do seu pedestal em Kharkhov na Ucrânia (o mistério é mesmo perceber como é que elas se mantiveram erigidas nestes últimos 23 anos), o secretário-geral do Partido Comunista Português, Jerónimo de Sousa, teve a delicadeza de qualificar as eleições primárias no maior partido da Esquerda portuguesa como uma farsa. É uma espécie de equivalência teórica à vetustez da estátua: aquela declaração parece-me coerente com os pensamentos teóricos do derrubado, para quem a opinião do povo era uma chatice. Por isso é que a classe operária delegava o que era melhor para si numa vanguarda esclarecida, o partido, e esta vanguarda delegava o esclarecimento por sua vez na direcção central (o centralismo). E nesta última, impunha-se a opinião de Lenine. No fim do ciclo, Lenine pensava por toda a classe operária e como a classe operária tinha uma natural proeminência sobre o resto do povo (como Marx explicara), era Lenine que decidia por todos. Depois dele foi Estaline a decidir. Depois os sucessores, entre nós os exemplos do incontornável Álvaro Cunhal até chegarmos ao actual Jerónimo de Sousa. Mas comum a eles todos este desconforto congénito com a auscultação (sem controlo!) da vontade popular.

Adenda: um outro protagonista da mesma esquerda hipócrita que, como padre falso beato, abusa da palavra democracia: a opinião de Francisco Louçã hoje espelhada no Público: O preço foi o sistema democrático ser esburacado: no PS vigorará doravante a luta de lama entre candidatos, o partido fica irrelevante e serão as oligarquias comunicacionais a propor o rei. A democracia perdeu. O problema deste discurso não é o povo não tomar banho depois das lutas de lama ou então preteri-lo a Teresa Guilherme das tais oligarquias comunicacionais. Os aristocratas poderiam escrever com o mesmo desdém que acima se lê, mas com coerência. O problema é Louçã (e Jerónimo) justificarem a actuação dos seus grupos políticos em nome dos interesses daqueles javardos ingratos, a quem negam as vantagens de se pronunciarem directamente, sem a sua intermediação.

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