02 setembro 2014

O QUE EXISTIA PARA LÁ DA PRAÇA TIANANMEN

Mais de vinte e cinco anos depois, descubro que pode existir uma controvérsia quanto à autoria da mais emblemática fotografia referente aos acontecimentos da praça Tiananmen de Pequim. A famosa fotografia do anónimo postado diante do T-54 bloqueando a coluna de blindados foi afinal captada por vários fotógrafos, entre os quais Jeff Widener, trabalhando para a Associated Press, cuja versão se tornou a mais difundida mundialmente (excepto, naturalmente, na China) e Charlie Cole, ao serviço da revista Newsweek, que veio a vencer o concurso da World Press Photo of the Year de 1989 com a sua. Que foi a que eu escolhi para o blogue. E escolhi-a porque foi o mesmo Charlie Cole que tirou naquela mesma ocasião um jogo de fotografias que nos pode dar uma panorâmica muito diferente daquilo que existia para lá da praça Tiananmen.
Com a visão dessas outras fotografias perde-se o lirismo que a comunicação social buscava e perceber-se-ia nitidamente como o Homem do Tanque não passaria de um epifenómeno no quadro da grande disputa política que então se travava em Pequim. Nunca a China se tornaria naquela Democracia com o formato que a opinião pública ocidental (a quem a fotografia se destinava) conceberia. Embora pragmática quanto à Economia, da China de Deng Xiaoping não se podia esperar que já tivesse adquirido a elasticidade mental para instalar um daqueles regimes autocráticos com eleições livres do Século XXI (como acontece no Irão ou na Rússia), em que o controle político se exerce já não através do escrutínio fraudulento dos votos, mas na triagem de quem pode concorrer. Mas, vinte e cinco anos depois, nota-se que a China evoluiu.
É o acumular destas discrepâncias entre o que nos disseram e mostraram que acontecia e aquilo que verdadeiramente acontecia que me torna cada vez mais céptico e mais cínico quanto à informação disponível nos dias que correm. Quem ousará pronunciar-se com conhecimento sobre aquilo que se estará a passar na Ucrânia?

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