21 setembro 2014

NÃO SERÁ CASO PARA VIR A INVOCAR TER SIDO UM SÓSIA?

Ninguém conhece Louis Ortiz mas é dispensável explicar porque é relevante saber de quem se trata, não por causa do nome, mas por causa da aparência. Todos teremos os nossos sósias, mas os das figuras públicas têm um valor acrescido. Ás vezes por razões bem perversas: quem não se lembra das tentativas da defesa de Carlos Cruz em atribuir a autoria daquilo de que era acusado a um sósia? Arranjar um sósia também pode ser um índice de desespero da imagem pública. O grau anterior do embaraço público – o de entalado – é aquele onde está agora o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho, quando evita desmentir categoricamente que andou a receber por fora da Tecnoforma numa época em que estaria obrigado à exclusividade de funções. Marcelo acabou de vir em sua ajuda, explicando na TVI que a ética (assim como a moda e muitos outros fenómenos sociais) tem épocas: se aquilo fosse feito hoje, seria imperdoável; agora há dezoito anos podia-se desculpar. Ficou por perceber se Marcelo considera que a elasticidade da ética é reversível, tal como o formato das gravatas que evoluem ciclicamente de quase fitas até ao umbigo até postas de bacalhau dependuradas pelo rabo. Mas, se Marcelo não iludir o povão e a pressão não se reduzir nos próximos dias, não será caso para pensar em vir a invocar ter sido um sósia de Passos Coelho a ter inadvertidamente recebido o dinheiro em vez dele?

Adendas: Já me dispusera a acrescentar uma adenda de retractação quando surgiu o esclarecimento que Pedro Passos Coelho afinal não se encontrava em regime de exclusividade aquando dos anos em que recebia da Tecnoforma. Mas ainda bem que a prudência imperou porque, numa nova evolução, se complementa agora que o mesmo Passos Coelho invocou estar nesse regime quando solicitou um subsídio de retorno à vida civil.  Ou seja, acumulam-se os indícios que, tendo-se tornado num homem seriíssimo, como nos asseguraram nas TVs o Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa e o doutor Luís Marques Mendes, ainda não o seria (seriíssimo) naquela época em que ele agora já não se lembra de onde lhe vinham os rendimentos. Acresce que, afiançando-lhe pela seriedade presente, não há quem afiance pela seriedade dos fiadores Marcelo e Marques Mendes. Enfim, espera-se que no fim desta história Passos Coelho (um homem sério, repita-se, mas que, bom português, não ia desperdiçar um subsídio que lhe era facultado por lei) não tenha que rasurar pessoalmente alguma documentação da mesma maneira que se soube que Richard Nixon tinha tido que apagar algumas passagens mais comprometedoras das fitas magnéticas que registaram as conversas que havia tido na sala oval da Casa Branca a respeito do assalto ao Watergate...

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