06 setembro 2014

O TACHO VIRADO E O CALDO ENTORNADO

Ignoro a razão que levou a dar a designação de tacho aos tachos. Deduzo que não deve ter mais de duzentos anos pois no Brasil tacho é apenas apetrecho de cozinha. Mas o que se constata é que desde sempre estes últimos servem de ilustração aos outros. A propósito dos figurados, anotei numa entrevista de impacto dada por um ex-administrador (não executivo) do BES ao i não apenas a incompetência confessa de quem ocupava o cargo, mas sobretudo a irresponsabilidade de quem apenas nas circunstâncias favoráveis se considerava parte da elite do país: o único lamento que o entrevistado profere na ressaca do colapso do banco vai para o facto de agora ter as suas contas congeladas. Para alguém que ia lá sacar 42 mil euros ao ano – e não os 10 a 12 mil que reporta na entrevista – para confessadamente não fazer nada, apetece dizer: temos pena! Não por não ter feito nada, ao contrário da visão populista, não é apenas o trabalho realizado que se paga, a responsabilidade também. Mas dando um exemplo concreto e agora que tanto se tem estado a falar da TAP, constate-se como o comandante é o mais bem pago da tripulação de um voo comercial mas que ordinariamente ele faz pouco, o seu ordenado só se começa a justificar quando as coisas correm mal. Ora, no caso do BES, é evidente que as coisas correram mal. Os tachos viraram-se, o caldo entornou-se, pedem-se responsabilidades e não percebo o desplante de Nuno Godinho de Matos em lamuriar-se. Como aconteceu de resto com Armando Vara também ontem, o quanto ele ficou surpreendido com a possibilidade das coisas darem a volta mesmo para tachistas encartados como ele…

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