The Isles: A History é um livro escrito por Norman Davies, editado em 1999. Há que reconhecer que não se trata de um livro muito acessível – duplamente: custou-me 9.815$ na FNAC uns anos depois e, entre o corpo principal e os (63!) anexos tem um pouco mais de 1.200 páginas. Mas é livro para nos explicar a complexidade das relações entre as várias nações que habitam as ilhas que Davies evitou, explicando detalhadamente porquê, qualificar de britânicas no título. Um exemplo que já usei aqui no blogue pode ser a história do mais bonito hino que conheço, Hen Wlad Fy Nhadau, o hino galês. Sobre o assunto supra, como acontece frequentemente, quanto mais conhecimentos adquirimos, com menos certezas ficamos.
Nesta época em que as opiniões sobre o referendo a respeito da independência escocesa são como os cus (toda a gente tem uma e manda cá para fora umas merdas), seria irrealista, à falta da contenção decorosa que deveria assistir a quem percebesse previamente muito pouco sobre o assunto, pedir ao contingente opinativo que se documentasse em calhamaços destes com mil páginas, antes de produzir por aqui e por aí as tais merdas. Disso eu já estava à espera. Confesso que não estava à espera é que numa historieta que teria, à partida, todas as condições de ser apresentada como a luta de David contra Golias¹, uma substancial parte da maralha se apresentasse a tomar doutamente partido... pelos Golias.
Só pela insídia da publicidade dada – por exemplo (mas que exemplo!) – à opinião do FMI sobre a independência escocesa dei por mim irritadamente a torcer pelo outro lado. Descobre-se que o FMI moderno afinal pronuncia-se sobre variadíssimos assuntos. E que a opinião é muito citada. Embora não me lembro de Portugal ter pedido o agrément público do FMI quando há 40 anos se decidiu pela descolonização. De resto, se se estava numa atitude de auscultar a opinião de grandes organismos internacionais sobre a independência escocesa, porque não perguntar também à FIFA? Provavelmente porque para esta a questão nem se põe: sempre existiu uma federação escocesa de futebol distinta da inglesa...
Em termos específicos, o irónico da situação é que muito provavelmente os nacionalistas escoceses já ganharam o referendo, independentemente de qual for o resultado. Como David Cameron extremou as posições, foi ele que acabou perdendo com a manobra. Em termos mais gerais o episódio vale pelo papel ideológico conferido ao FMI que aqui aparece como se fosse uma Internacional Capitalista, ao melhor estilo das suas antecessoras de inspiração distinta, explicando-nos o que é que é melhor para a Humanidade. A diferença é que o papel outrora representado pelos apaniguados comunistas é agora desempenhado por uma plêiade de opinadores que, distintos, acabam sempre por opinar concertadamente.
¹ Ou do Robin dos Bosques contra o Xerife, embora o Robin, convêm esclarecer, seja inglês e não escocês.
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