31 março 2008

LIÇÕES DO ZIMBABUÉ

Durante mais de uma década, o Zimbabué conseguiu ser um exemplo de que a propaganda britânica se utilizava para demonstrar como a sua diplomacia geria os conflitos africanos de uma forma diferente. Nem sempre com sucesso (os europeus da Rodésia, antecessora do Zimbabué, fugiram-lhes ao controlo e proclamaram em 1965 unilateralmente a sua independência…), mas de uma forma diferente, que impedia que se verificassem os êxodos maciços dos europeus, como aqueles que vitimaram os residentes de origem europeia das colónias francesas (Argélia) ou portuguesas (Angola e Moçambique).
A urbanidade do processo (Acordos de Lancaster House) que conduziu à independência do Zimbabué em 1980 convenceu-me do fundamento das razões apresentadas pela diplomacia britânica. Também houvera um prolongado conflito de guerrilha, mas a potência colonial regressara a tempo de pôr as coisas em ordem… Desde o principio, o Zimbabué independente não tinha nada que se assemelhasse à Argélia de 1962, à Angola ou a Moçambique de 1975, onde os serviços elementares de uma sociedade como a saúde, a educação, a água, a electricidade, o saneamento e até a prosaica recolha do lixo, quase desapareceram…
E contudo, progressivamente vim-me apercebendo como as transições suaves não são, só por si, a garantia de um fim feliz para a história. Num livro como Quando um Crocodilo come o Sol, do zimbabueano (branco) Peter Godwin podemos acompanhar, através da história da sua família, a desdita dos seus compatriotas da mesma etnia que, depois da independência se aferraram àquele país e que, por muito que tivessem contemporizado, acabaram quase todos na mesma situação dos proprietários dos caixotes da fotografia lá de cima*. De todo aquele edifício legislativo democrático de 1980, desmentido pelos factos, resta agora apenas uma dúvida:
Será ainda possível uma transição política pacífica baseada nos resultados de um acto eleitoral?

* Apesar de manterem a nacionalidade zimbabueana, o autor vive nos Estados Unidos e a sua irmã no Reino Unido.

1 comentário:

  1. Da Rodésia ao Zimbaué, de Salisburia a Harare.
    Da minoria do Ian Smith à minoria do Robert Mugab, a História é assim...

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