A CONVOCATÓRIA PARA AS DUAS DA MANHÃ

No mundo da informação actual, baseada sobretudo na imagem, parece ter muito mais impacto – e necessitar de muito menos legendas explicativas… – as filmagens de uma meia dúzia de maduros vociferantes com umas bandeiras do Tibete a perturbar a cerimónia olímpica de entrega da chama olímpica aos representantes chineses (acima) do que explicar o significado de uma convocatória da Embaixadora indiana em Pequim, no dia 23 de Março passado, para uma reunião no Ministério dos Negócios Estrangeiros que foi marcada… para as duas da manhã.

Trata-se de uma hora verdadeiramente absurda, ainda para mais quando escolhida no mundo extremamente formal da diplomacia, que só se justificaria se houvesse uma emergência. Mas os temas abordados pelos funcionários chineses com a Sra. Nirupama Rao (abaixo) incidiram sobre o seu desagrado do episódio em que manifestantes tibetanos tinham entrado nas instalações da Embaixada chinesa em Nova Deli, questionaram a segurança da tocha olímpica quando ela viesse a passar por Nova Deli, e chegou até às declarações da congressista norte-americana Nancy Pelosi quando ela visitou recentemente o Dalai Lama (exilado em Dharmasala, na Índia)

Em suma, de forma inequívoca, os chineses quiseram saber que grau de cobertura os indianos iriam dar às manifestações da comunidade tibetana que está exilada no seu país. A Sra. Rao, mesmo àquelas horas da noite, deve ter-se desfeito em explicações e em protestos de boa-fé, a atitude indicada para os embaixadores adoptarem em tais situações. Mas aquilo não era um diálogo e as suas respostas não tinham qualquer interesse: competia-lhe transmitir o recado a Nova Deli. A China não está com disposição que estraguem a festa* que montou. O que a Índia quererá em troca poderemos saber em breve... Mas sempre longe das câmaras de televisão.

* Os Jogos Olímpicos de 2008.