As referências na História Mundial ao Espírito das Luzes e ao Despotismo Esclarecido do Século XVIII costumam dar realce à figura do Rei Frederico II da Prússia (1712-1786) e às reformas do seu longo reinado de 46 anos (1740-1786) que transformaram o seu reino numa potência europeia. O quanto essas transformações dependem afinal de muitas circunstâncias é que se torna frequentemente esquecido, nas referências casuais a um outro déspota esclarecido que fracassou rotundamente nas suas reformas: o Imperador José II da Áustria (1741-1790).
José era filho de Francisco Estêvão da Lorena (1708-1765) e de Maria Teresa da Áustria (1717-1780). Com a morte do pai, quando ele tinha 24 anos, tornou-se o Imperador do Sacro Império Romano Germânico, mas a maior parte da sua herança era materna, as possessões dos Habsburgos e, embora fosse co-regente com a sua mãe, foi só por morte desta, 15 anos depois que José obteve a liberdade de movimentos para pôr em prática o seu programa político. E este, consistia em concretizar os princípios abstractos dos teóricos do direito natural daquela época.
Os relatos fazem de José II um soberano inteligente, sincero, dedicado, mas sem nenhum espírito prático nem político. Para ter uma ideia da sua capacidade de trabalho, durante o seu reinado de dez anos (1780-1790), José II terá publicado cerca de umas 17.000 peças legislativas, com uma amplitude que se estendia de um Edito de Tolerância, que permitia a liberdade da prática religiosa para todas as confissões entre os seus súbditos, até à simplificação dos hábitos das feiras, aos limites paroquiais e à regulamentação das procissões (sem música nem imagens).
Como se imagina, a sua vida pessoal foi um enorme bocejo. Casou e enviuvou por duas vezes. Metódica e desinspiradamente devotado às artes, é ele o imperador que é retratado no filme Amadeus elogiando Salieri e criticando Mozart pela ousadia das suas óperas. De visita a Gent*, entre os seus súbditos flamengos, e diante do políptico O Cordeiro de Deus, datado do Século XV e da autoria dos irmãos van Eick (acima), o seu comentário principal foi negativo e dirigido às nudezes de Adão e Eva que aparecem nos dois cantos superiores do retábulo…
José II morreu em Fevereiro de 1790, sem descendência e, por causa da sua completa falta de diplomacia, com a maioria das nacionalidades do seu vasto império multinacional em revolta contra o centralismo da coroa, a começar pelos flamengos, que se haviam revoltado e proclamado os Estados Unidos da Bélgica em Janeiro. Naquele momento, 6 meses passados depois da Revolução Francesa de 14 de Julho de 1789, era difícil indicar qual dos tronos estaria mais periclitante, se o dos Habsburgos, se o dos Bourbons ocupado por Maria Antonieta, a irmã mais nova de José…
* Em flamengo. Em português Gante.
Os relatos fazem de José II um soberano inteligente, sincero, dedicado, mas sem nenhum espírito prático nem político. Para ter uma ideia da sua capacidade de trabalho, durante o seu reinado de dez anos (1780-1790), José II terá publicado cerca de umas 17.000 peças legislativas, com uma amplitude que se estendia de um Edito de Tolerância, que permitia a liberdade da prática religiosa para todas as confissões entre os seus súbditos, até à simplificação dos hábitos das feiras, aos limites paroquiais e à regulamentação das procissões (sem música nem imagens).
Como se imagina, a sua vida pessoal foi um enorme bocejo. Casou e enviuvou por duas vezes. Metódica e desinspiradamente devotado às artes, é ele o imperador que é retratado no filme Amadeus elogiando Salieri e criticando Mozart pela ousadia das suas óperas. De visita a Gent*, entre os seus súbditos flamengos, e diante do políptico O Cordeiro de Deus, datado do Século XV e da autoria dos irmãos van Eick (acima), o seu comentário principal foi negativo e dirigido às nudezes de Adão e Eva que aparecem nos dois cantos superiores do retábulo…
José II morreu em Fevereiro de 1790, sem descendência e, por causa da sua completa falta de diplomacia, com a maioria das nacionalidades do seu vasto império multinacional em revolta contra o centralismo da coroa, a começar pelos flamengos, que se haviam revoltado e proclamado os Estados Unidos da Bélgica em Janeiro. Naquele momento, 6 meses passados depois da Revolução Francesa de 14 de Julho de 1789, era difícil indicar qual dos tronos estaria mais periclitante, se o dos Habsburgos, se o dos Bourbons ocupado por Maria Antonieta, a irmã mais nova de José…
* Em flamengo. Em português Gante.
Muito parecido, o actor de Amadeus (conhecido posteriormente como Mr. Criswell)com José II.
ResponderEliminarPara além de ter apreciado o texto, apetece-me dizer, sem conhecimento de causa, que José II devia ser duro de ouvido, pois só assim se compreende que tivesse criticado Mozart.
ResponderEliminarO elogio a Salieri tolera-se, houve muito pior.
É mesmo verdade João Pedro! Muito bem notado, obrigado.
ResponderEliminarJRD, a apreciação dos críticos classifica as composições de Salieri como competentes.
Creio que o drama de Salieri, destacado aliás pelo filme, é que ele competia com um génio da composição e ele tinha a qualidade de ser um dos únicos a conseguir reconhecer a genialidade de Mozart, só que tinha um feitio demasiado "retorcido" para o aceitar...
Partilho inteiramente as suas palavras sobre a postura de Salieri, a que não era estranho um manifesto complexo de inferioridade mal resolvido.
ResponderEliminarcaro amigo,
ResponderEliminarEm 1790 foi proclamado " os estados neerlandês unidos " e não "os estados belgas unidos". Este revolução foi uma a revolta brabantina conservativa contra as reformas de Josef II . Os rebeldes brabantinos procuravam aproximação com os países baixos nórdicos (Holanda) e os países baixos austrais (flandres). Enquanto a revolução de 1830 defenda com ardor a separação com os países baixos (Holanda) e foi dirigido principalmente por revoltosos franceses e súbditos do principado de Liège. Para terminar, em 1790 não existiu um povo belga somente um povo brabantino, flamengo, um povo de Liège e de Namur. O carácter federal dos países baixos austrais sob o governo de Josef II e depois do Governo de Willem I não se pode desvalorizar. O estado belga de 1830 era uma ruptura com esta tradição de federalismo .
cumprimentos de Antuérpia
Obrigado pelos esclarecimentos, meu caro Theo.
ResponderEliminarPelos vistos, já nessa época, a versão flamenga e francesa da designação do Estado não era a mesma: Verenigde Nederlandse Staten e États-Belgiques-Unis.
Gostaria de saber o por que de vc colocar que seu blog deve ser julgado apenas pelo conteúdo?
ResponderEliminarE por que mais seria?
Eu diria que esteticamente ele também é ótimo.
Maria José:
ResponderEliminarA frase a que se refere está escrita por debaixo de uma rúbrica que se intitula "Acerca de Mim"...
E as pessoas costumam julgar o conteúdo do que lêem por todas as razões e mais algumas, mas só poucas têm a ver com o que está lá escrito...
Acha que não? Experimente apresentar um mesmo texto político às pessoas, fingindo que ele é assinado ou pelo Lula ou pelo Aécio Neves... Acha que a reacção dos leitores será a mesma mudando quem é o "autor"?
Pois aqui resolvi não deixar pistas de quem sou e do que faço, é um convite a que quem lê aprecie as ideias pelo seu valor...