Se os norte-americanos costumam ser censurados actualmente por não mostrarem qualquer sensibilidade pelas opiniões públicas dos países árabes, suponho os britânicos deviam ser os últimos da fila a fazê-lo: é que se conseguem contar todos os episódios mais importantes da Segunda Guerra Mundial no Norte de África, o choque entre os exércitos de Rommel e de Montgomery, sem que seja necessário explicar qual era a posição do governo egípcio no conflito… É que as duas cruciais batalhas de El Alamein tiveram lugar em solo egípcio, país que se tinha tornado independente em 1922…
O Iraque também era assim um país independente desde 1932. E não surpreende – como acontecia no resto do Mundo naquela época – que ali houvesse duas facções políticas, os anglófilos, que eram sustentados no poder pelos britânicos que, tendo descolonizado, continuavam, por Tratado (1930), a possuir interesses e várias bases aéreas no Iraque, e a oposição que, mais do que germanófila, gozava do apoio popular por ambicionar prosseguir uma política externa que fosse mais independente dos interesses britânicos. E, à sua maneira, a política iraquiana não era imune a alternâncias…
Assim, de uma postura pró-britânica em 1939, a vitória alemã sobre a França de Junho de 1940 provocara uma inflexão na orientação política do governo iraquiano para um neutralismo muito mais cauteloso, mas a necessidade britânica pelo petróleo iraquiano fizera com que a facção pró-britânica, com o apoio encoberto dos seus serviços secretos, retornasse ao poder em Janeiro de 1941. Dois meses depois, incentivados pelos serviços alemães e italianos, a facção oposta (que nas versões inglesas é sempre classificada como pró-fascista ou pró-nazi), montou um Golpe de Estado bem sucedido.
Seguiu-se um período de um mês de espectáculos de demonstração de forças, com o exército iraquiano assumindo posições tacticamente ameaçadoras nas vizinhanças das instalações britânicas no Iraque (a lembrar os shows e ameaças de Saddam Hussein…), enquanto os britânicos reuniam os meios para contra-atacarem (lembrando o que aconteceu com os norte-americanos em 1990-91). Os verdadeiros combates duraram cerca de um mês, e o compósito exército britânico (que incluía indianos, árabes jordanos, judeus palestinianos e até curdos de recrutamento local…) acabou por se superiorizar ao inimigo.
Os apoios que os alemães podiam conceder aos iraquianos estavam limitados pela geografia. Os apoios por terra (ao exército) tinham que atravessar a Turquia, que se mostrou ferozmente neutral. Os aéreos podiam passar pela Síria, colónia francesa obediente ao regime de Vichy que, vogando entre a neutralidade e o apoio à Alemanha, acabou por permitir a passagem de um punhado de esquadrilhas de caças e de bombardeiros, com as respectivas equipas de manutenção. Foram insuficientes para alterar militarmente o desfecho dos combates, mas eram suficientes para legitimar politicamente a invasão britânica…
O conflito durou menos de dois meses: entre Abril e Maio de 1941. Um atractivo adicional deste sideshow é, para além do aspecto histórico, o seu potencial aspecto profético. O Tratado Anglo-Iraquiano de 1930 contém inúmeras cláusulas que deveremos ver repetidas no futuro Tratado que irá regular a futura retirada da presença militar norte-americana do Iraque. Depois disso, com os americanos já recolhidos às suas Zonas Verdes, não surpreenderá ver outras tropas iraquianas a fazer demonstrações de intimidação nos perímetros dessas Zonas, tal qual aconteceu em 1941 com as bases britânicas…
Assim, de uma postura pró-britânica em 1939, a vitória alemã sobre a França de Junho de 1940 provocara uma inflexão na orientação política do governo iraquiano para um neutralismo muito mais cauteloso, mas a necessidade britânica pelo petróleo iraquiano fizera com que a facção pró-britânica, com o apoio encoberto dos seus serviços secretos, retornasse ao poder em Janeiro de 1941. Dois meses depois, incentivados pelos serviços alemães e italianos, a facção oposta (que nas versões inglesas é sempre classificada como pró-fascista ou pró-nazi), montou um Golpe de Estado bem sucedido.
Seguiu-se um período de um mês de espectáculos de demonstração de forças, com o exército iraquiano assumindo posições tacticamente ameaçadoras nas vizinhanças das instalações britânicas no Iraque (a lembrar os shows e ameaças de Saddam Hussein…), enquanto os britânicos reuniam os meios para contra-atacarem (lembrando o que aconteceu com os norte-americanos em 1990-91). Os verdadeiros combates duraram cerca de um mês, e o compósito exército britânico (que incluía indianos, árabes jordanos, judeus palestinianos e até curdos de recrutamento local…) acabou por se superiorizar ao inimigo.
Os apoios que os alemães podiam conceder aos iraquianos estavam limitados pela geografia. Os apoios por terra (ao exército) tinham que atravessar a Turquia, que se mostrou ferozmente neutral. Os aéreos podiam passar pela Síria, colónia francesa obediente ao regime de Vichy que, vogando entre a neutralidade e o apoio à Alemanha, acabou por permitir a passagem de um punhado de esquadrilhas de caças e de bombardeiros, com as respectivas equipas de manutenção. Foram insuficientes para alterar militarmente o desfecho dos combates, mas eram suficientes para legitimar politicamente a invasão britânica…
O conflito durou menos de dois meses: entre Abril e Maio de 1941. Um atractivo adicional deste sideshow é, para além do aspecto histórico, o seu potencial aspecto profético. O Tratado Anglo-Iraquiano de 1930 contém inúmeras cláusulas que deveremos ver repetidas no futuro Tratado que irá regular a futura retirada da presença militar norte-americana do Iraque. Depois disso, com os americanos já recolhidos às suas Zonas Verdes, não surpreenderá ver outras tropas iraquianas a fazer demonstrações de intimidação nos perímetros dessas Zonas, tal qual aconteceu em 1941 com as bases britânicas…
Excelente texto, tal como o primeiro, tal como todos os outros. Parabéns.
ResponderEliminarContinuo a aprender e/ou a confirmar o que já sabia.
ResponderEliminarA história repete-se mesmo.
É a chamada dialética da história...
ResponderEliminarVai continuando pois aguardo ansiosamente os próximos capítulos.
Concordo com a Sofia. Excelentes textos.