Depois de meses consecutivos em que a comunicação social arranjava as explicações mais estapafúrdias para o aumento encadeado do preço do petróleo já se aceita agora uma outra explicação bastante mais consequente, adiantada inicialmente em surdina e sem grande acolhimento (por mim também): a de que o petróleo estava (e continua…) a ser usado como um investimento financeiro. Desenvolvendo em linguagem de leigos: embora mal distribuído, se há coisa que não falta neste mundo é dinheiro, e se a angústia de maioria é como o obter, a angústia de uns poucos é a de saber em que é que devem converter todo aquele dinheiro que possuem para que não fiquem mais pobres…
Estamos numa época má para esses poucos. Durante anos, aqueles poucos que eram estrangeiros estiveram convencidos que nos Estados Unidos eram gente séria porque, nos próprios Estados Unidos, os poucos que eram de lá naturais andavam convencidos que o seu próprio património imobiliário era valiosíssimo... Afinal não era, e uma das coisas que sofreu com essa descoberta foi a reputação da própria moeda norte-americana: agora saiu de moda possuir dólares, que se desvalorizam quase quotidianamente em comparação com outras divisas (o euro, o iene ou a libra, por exemplo) e é preferível aos poucos convertê-los em qualquer coisa: petróleo, por exemplo…
Surpreende-me francamente que não tenha havido ninguém de entre os excelentes quadros do Banco Mundial que ousasse fazer uma analogia entre aquilo que agora já se reconhece estar a acontecer no mercado petrolífero com o que pode estar a acontecer no mercado dos cereais. Segundo aquele organismo, o aumento da cotação dos cereais no último ano, que se cifrou em 130% no trigo, 87% na soja, 74% no arroz ou 31% no milho, deveu-se ao aumento da procura, ao mau tempo em alguns países produtores que reduziu as suas colheitas e à redução das áreas cultivadas, que foram reconvertidas para a produção de biocombustíveis.
Com a devida humildade, todas aquelas explicações prestadas pelo Banco Mundial não me convencem. Embora possa suspeitar das razões políticas pelas quais organismos com aquelas responsabilidades não queiram assumir a analogia entre o comportamento do mercado dos cereais e o do petróleo, o raciocínio é simples. Aqueles poucos angustiados quanto à aplicação as suas fortunas tendem a tornar-se prudentes depois das épocas de euforia como as que atravessámos. De entre a miríade de bens que consumimos, há aqueles que continuarão a ser indispensáveis: os alimentares. Investir neles, será melhor aposta que no petróleo e será isso que alguns estarão a fazer…
Como no caso do petróleo, no caso dos cereais daqui a alguns meses veremos…
Surpreende-me francamente que não tenha havido ninguém de entre os excelentes quadros do Banco Mundial que ousasse fazer uma analogia entre aquilo que agora já se reconhece estar a acontecer no mercado petrolífero com o que pode estar a acontecer no mercado dos cereais. Segundo aquele organismo, o aumento da cotação dos cereais no último ano, que se cifrou em 130% no trigo, 87% na soja, 74% no arroz ou 31% no milho, deveu-se ao aumento da procura, ao mau tempo em alguns países produtores que reduziu as suas colheitas e à redução das áreas cultivadas, que foram reconvertidas para a produção de biocombustíveis.
Com a devida humildade, todas aquelas explicações prestadas pelo Banco Mundial não me convencem. Embora possa suspeitar das razões políticas pelas quais organismos com aquelas responsabilidades não queiram assumir a analogia entre o comportamento do mercado dos cereais e o do petróleo, o raciocínio é simples. Aqueles poucos angustiados quanto à aplicação as suas fortunas tendem a tornar-se prudentes depois das épocas de euforia como as que atravessámos. De entre a miríade de bens que consumimos, há aqueles que continuarão a ser indispensáveis: os alimentares. Investir neles, será melhor aposta que no petróleo e será isso que alguns estarão a fazer…
Como no caso do petróleo, no caso dos cereais daqui a alguns meses veremos…
Excelente artigo, mais uma vez, muito mais esclarecedor que todas as arengas dos nossos excelentíssimos analistas económicos.
ResponderEliminarObrigado, Sofia.
ResponderEliminarConvém deixar claro que abusei da simplificação para tornar o assunto mais claro para os menos entendidos nos assuntos económicos:
Costuma haver vários factores que contribuem para a formação dos preços e os indicados pelo Banco Mundial (BM) também serão válidos - embora os considere menos importantes do que o investimento financeiro.
Mas a omissão deste último por parte do BM no seu relatório é escandalosa e levanta-me mesmo a suspeita se não será deliberada...
Será por isso que o Banco Mundial é olhado como um mero instrumento do governo dos EUA?
ResponderEliminarO Banco Central Europeu, por sua vez, está no mesmo caminho... Credibilidade esgotada por decisões ditadas por Bona!
Completamente de acordo quanto ao petróleo, e eu também já o tinha afirmado numa posta de 8/11/2007 com o título de "especulação". Tenho algumas dúvidas relativamente aos cereais, dado que armazená-los durante um ano ou mais em condições que obviem à sua degradação deve ser muito custoso. Já o era há 50 anos, com sementes naturais e agricultura biológica e julgo que agora ainda deve ser pior. Mas a ver vamos.
ResponderEliminarLino, não escrevi que considerava que havia uma pressão especulativa naquele sentido clássico do açambarcamento, à espera de valorização.
ResponderEliminarO que escrevi é que há uma pressão para converter dólares em quaisquer outros artigos porque o dólar se está a desvalorizar.
O circuito dos cereais, desde a sementeira até à distribuição a cliente final permanece essencialmente o mesmo.
Há é novos "operadores" no mercado que estão a puxar pelos preços...