30 abril 2008

O REI DA ILHA

Muitas daquelas pequenas ilhas costumam ter o seu rei, personagem popular que se costuma destacar pelo exotismo do resto da pequena comunidade local. Ainda mais para Sul da Sicília, a Itália tem duas dessas pequenas ilhas, quase propositadamente concebidas para terem reis, que se chamam Pantelária (com 83 km² e 6.000 habitantes) e, aquela que nos interessa para contar a história deste rei, Lampedusa (com 25 km² e também 6.000 habitantes).
Vale a pena comparar a localização estratégica destas ilhas no centro do Mediterrâneo que é muito equivalente à de Malta (316 km² e 402.000 habitantes). Durante a Segunda Guerra Mundial, tivesse havido uma outra disposição combativa e uma outra utilização dos seus recursos por parte dos italianos e o controlo do Mediterrâneo Central que foi exercido pelos britânicos a partir da sua possessão maltesa ter-se-ia revelado muito mais difícil, senão mesmo impossível.

Lampedusa é uma ilha aprazível, que geologicamente pertence ao continente africano – está situada a pouco mais de 200 km das costas da Sicília, mas apenas a 115 km das costas da Tunísia. Para a alcançar, a viagem num barco vindo de Itália dura cerca de oito horas, mas vindo da Tunísia, a durção é sensivelmente metade desse tempo. O nome da ilha recorda-nos o autor do famoso livro O Leopardo, Giuseppe Tomasi di Lampedusa (1896-1957), que foi um descendente directo dos senhores feudais da ilha.
Mas a suserania daqueles foi posta claramente em causa durante a Segunda Guerra Mundial, A 10 de Junho, os Aliados, vencedores recentes da Campanha na Tunísia, haviam desencadeado uma ofensiva sobre a ilha de Pantelária que havia sido precedida de uma intensa campanha de bombardeamento de dez dias sobre a guarnição da ilha. Esta, comandada pelo Almirante Gino Pavesi, rendeu-se no dia imediato. A tese dos que defendiam a eficácia dos bombardeamentos parecia justificada.

A tese foi seriamente abalada quando, dois dias passados, a 13 de Junho, um piloto de um Swordfish britânico com dificuldades de orientação, o Sargento Sidney Cohen (abaixo), teve que fazer uma aterragem de emergência em Lampedusa e, mesmo sem a necessidade de qualquer bombardeamento prévio, a guarnição da ilha (uma companhia de 127 homens) se rendeu espontaneamente ao piloto recém-chegado… Escusado será dizer que, a partir daí, Cohen passou a ser conhecido como o Rei de Lampedusa Ao contrário de muitos outros feitos militares gloriosos, de que apenas se podem ouvir as descrições, é possível recorrer ao You Tube e às imagens de uma aterragem de um monomotor no actual aeródromo de Lampedusa para podermos reconstituir aproximadamente como teriam sido os momentos cruciais do Sargento Cohen, desde o alívio de salvar a própria vida num avião em dificuldades, à resignação de ser feito prisioneiro pelos italianos, à glória de ser considerado o conquistador da ilha…

3 comentários:

  1. Sou pouco versado nesta matéria, mas será que alguma vez os italianos conseguiram fazer um prisioneiro?
    Nem na "guerra da Abissínia"...

    ResponderEliminar
  2. Totalmente de acordo com "jrd"!
    Para alívio dos "aliados", a Itália conseguiu gripar o "eixo", até ele partir...

    ResponderEliminar
  3. Em qualquer das duas guerras mundiais os italianos deram mais trabalho aos amigos que aos inimigos.

    ResponderEliminar