13 abril 2008

"SIDESHOWS" DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL (1) – A INVASÃO ANGLO-SOVIÉTICA DO IRÃO EM AGOSTO DE 1941

Entre os inúmeros acontecimentos da Segunda Guerra Mundial, houve aqueles que costumam estar omissos das grandes compilações, por terem decorrido em locais remotos das frentes principais, porque as operações a eles associadas foram breves e não tiveram repercussões de maior no prosseguimento da Guerra ou porque o seu significado tornou-se politicamente embaraçoso no quadro geopolítico que emergiu no fim do conflito. Perdoar-me-ão o anglicismo da expressão sideshow mas não encontrei tradução portuguesa satisfatória para ela. Comecemos então pela pressão dos aliados sobre o Irão no Verão de 1941.
A História de Séculos da expansão russa, inclui a preocupação constante de encontrar portos para o seu comércio externo. A Rússia conquistou vários, fundou outros, mas todos tinham os seus defeitos e isso tornou-se ainda mais evidente durante os anos da invasão alemã na Segunda Guerra Mundial (1941-44). Com as conquistas da Wehrmacht (acima), a União Soviética perdeu o acesso aos seus portos principais, tanto os do Mar Báltico como os do Mar Negro. A importação do imprescindível material de guerra fornecido sobretudo pelos norte-americanos só se podia efectuar por três outras vias, qualquer delas complicada.

A primeira via era a dos dois portos situados no Oceano Ártico, Arkhangelsk e Murmansk. Mas a rota marítima para os atingir passava perigosamente perto da Noruega, ocupada então pelos alemães e pelas bases dos submarinos da sua marinha de guerra. Para mais, naquelas condições climatéricas extremas, o destino da tripulação de qualquer navio que fosse afundado era a morte certa, se não fosse resgatada dos barcos salva vidas em poucos minutos… A gestão dos comboios navais do Ártico tornou-se uma questão quase exclusivamente britânica. A frota mercante soviética era necessária do outro lado do mundo…
O outro porto que ainda restava disponível aos soviéticos era o de Vladivostok, que se situa no Oceano Pacífico, no fim do caminho-de-ferro Trans-Siberiano, mesmo junto ao Japão. E isso era o outro grande problema (o primeiro era o de que as mercadorias tinham que viajar mais de 9.300 km até chegar a Moscovo…), porque a partir de 8 de Dezembro de 1941, com os Estados Unidos envolvidos em Guerra contra o Japão (onde a União Soviética era neutral), o transporte marítimo tinha que se efectuar obrigatoriamente em navios mercantes soviéticos ou nos pertencentes aos poucos países neutrais que ainda restavam naquela Guerra.

É neste quadro de complicações logísticas que se compreende o empenho colocado na abertura de uma terceira via de abastecimento alternativa, utilizando, desta vez, um terceiro país, que não se mostrou muito entusiasmado em colaborar: o Irão. As mercadorias seriam primeiro desembarcadas no portos iranianos de Abadan e Ahvaz no Golfo Pérsico e depois transportadas através do caminho-de-ferro Trans-Iraniano (1.400 km de extensão) até à fronteira do Irão com o Azerbaijão, onde teria que haver um transbordo para o sistema ferroviário soviético que utiliza carris com uma bitola diferente do iraniano.
Apesar das pressões simultâneas de soviéticos e britânicos para que o (acima) autorizasse a passagem dos reabastecimentos, este resistiu a elas e a 25 de Agosto de 1941, os dois aliados concertadamente invadiram o Irão. Apesar da retórica, a Alemanha pouco podia fazer na prática pela sua causa, e a única potência neutral (os Estados Unidos) era favorável à intervenção anglo-soviética. Três semanas depois, as operações estavam terminadas*, o Xá era deposto e exilado, substituído no trono pelo filho. Símbolo deste novo alinhamento, a primeira Conferência entre os Três Grandes, em 1943, realizou-se precisamente em Teerão…

* De significado premonitório para o quadro geopolítico actual daquela região, a grande maioria das tropas sob comando britânico, eram de origem indiana (8ª e 10ª Divisões de Infantaria indiana, 2ª Brigada Blindada indiana e 21ª Brigada Independente de Infantaria indiana).

1 comentário:

  1. Tu e mais uma das tuas "side-stories" da História.E, mais uma vez, deveras interessante.

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