Entre os inúmeros acontecimentos da Segunda Guerra Mundial, houve aqueles que costumam estar omissos das grandes compilações, por terem decorrido em locais remotos das frentes principais, porque as operações a eles associadas foram breves e não tiveram repercussões de maior no prosseguimento da Guerra ou porque o seu significado tornou-se politicamente embaraçoso no quadro geopolítico que emergiu no fim do conflito. Perdoar-me-ão o anglicismo da expressão sideshow mas não encontrei tradução portuguesa satisfatória para ela. Comecemos então pela pressão dos aliados sobre o Irão no Verão de 1941.
A História de Séculos da expansão russa, inclui a preocupação constante de encontrar portos para o seu comércio externo. A Rússia conquistou vários, fundou outros, mas todos tinham os seus defeitos e isso tornou-se ainda mais evidente durante os anos da invasão alemã na Segunda Guerra Mundial (1941-44). Com as conquistas da Wehrmacht (acima), a União Soviética perdeu o acesso aos seus portos principais, tanto os do Mar Báltico como os do Mar Negro. A importação do imprescindível material de guerra fornecido sobretudo pelos norte-americanos só se podia efectuar por três outras vias, qualquer delas complicada.
A primeira via era a dos dois portos situados no Oceano Ártico, Arkhangelsk e Murmansk. Mas a rota marítima para os atingir passava perigosamente perto da Noruega, ocupada então pelos alemães e pelas bases dos submarinos da sua marinha de guerra. Para mais, naquelas condições climatéricas extremas, o destino da tripulação de qualquer navio que fosse afundado era a morte certa, se não fosse resgatada dos barcos salva vidas em poucos minutos… A gestão dos comboios navais do Ártico tornou-se uma questão quase exclusivamente britânica. A frota mercante soviética era necessária do outro lado do mundo…
O outro porto que ainda restava disponível aos soviéticos era o de Vladivostok, que se situa no Oceano Pacífico, no fim do caminho-de-ferro Trans-Siberiano, mesmo junto ao Japão. E isso era o outro grande problema (o primeiro era o de que as mercadorias tinham que viajar mais de 9.300 km até chegar a Moscovo…), porque a partir de 8 de Dezembro de 1941, com os Estados Unidos envolvidos em Guerra contra o Japão (onde a União Soviética era neutral), o transporte marítimo tinha que se efectuar obrigatoriamente em navios mercantes soviéticos ou nos pertencentes aos poucos países neutrais que ainda restavam naquela Guerra.
É neste quadro de complicações logísticas que se compreende o empenho colocado na abertura de uma terceira via de abastecimento alternativa, utilizando, desta vez, um terceiro país, que não se mostrou muito entusiasmado em colaborar: o Irão. As mercadorias seriam primeiro desembarcadas no portos iranianos de Abadan e Ahvaz no Golfo Pérsico e depois transportadas através do caminho-de-ferro Trans-Iraniano (1.400 km de extensão) até à fronteira do Irão com o Azerbaijão, onde teria que haver um transbordo para o sistema ferroviário soviético que utiliza carris com uma bitola diferente do iraniano.
Apesar das pressões simultâneas de soviéticos e britânicos para que o Xá (acima) autorizasse a passagem dos reabastecimentos, este resistiu a elas e a 25 de Agosto de 1941, os dois aliados concertadamente invadiram o Irão. Apesar da retórica, a Alemanha pouco podia fazer na prática pela sua causa, e a única potência neutral (os Estados Unidos) era favorável à intervenção anglo-soviética. Três semanas depois, as operações estavam terminadas*, o Xá era deposto e exilado, substituído no trono pelo filho. Símbolo deste novo alinhamento, a primeira Conferência entre os Três Grandes, em 1943, realizou-se precisamente em Teerão…
* De significado premonitório para o quadro geopolítico actual daquela região, a grande maioria das tropas sob comando britânico, eram de origem indiana (8ª e 10ª Divisões de Infantaria indiana, 2ª Brigada Blindada indiana e 21ª Brigada Independente de Infantaria indiana).
A primeira via era a dos dois portos situados no Oceano Ártico, Arkhangelsk e Murmansk. Mas a rota marítima para os atingir passava perigosamente perto da Noruega, ocupada então pelos alemães e pelas bases dos submarinos da sua marinha de guerra. Para mais, naquelas condições climatéricas extremas, o destino da tripulação de qualquer navio que fosse afundado era a morte certa, se não fosse resgatada dos barcos salva vidas em poucos minutos… A gestão dos comboios navais do Ártico tornou-se uma questão quase exclusivamente britânica. A frota mercante soviética era necessária do outro lado do mundo…
O outro porto que ainda restava disponível aos soviéticos era o de Vladivostok, que se situa no Oceano Pacífico, no fim do caminho-de-ferro Trans-Siberiano, mesmo junto ao Japão. E isso era o outro grande problema (o primeiro era o de que as mercadorias tinham que viajar mais de 9.300 km até chegar a Moscovo…), porque a partir de 8 de Dezembro de 1941, com os Estados Unidos envolvidos em Guerra contra o Japão (onde a União Soviética era neutral), o transporte marítimo tinha que se efectuar obrigatoriamente em navios mercantes soviéticos ou nos pertencentes aos poucos países neutrais que ainda restavam naquela Guerra.
É neste quadro de complicações logísticas que se compreende o empenho colocado na abertura de uma terceira via de abastecimento alternativa, utilizando, desta vez, um terceiro país, que não se mostrou muito entusiasmado em colaborar: o Irão. As mercadorias seriam primeiro desembarcadas no portos iranianos de Abadan e Ahvaz no Golfo Pérsico e depois transportadas através do caminho-de-ferro Trans-Iraniano (1.400 km de extensão) até à fronteira do Irão com o Azerbaijão, onde teria que haver um transbordo para o sistema ferroviário soviético que utiliza carris com uma bitola diferente do iraniano.
Apesar das pressões simultâneas de soviéticos e britânicos para que o Xá (acima) autorizasse a passagem dos reabastecimentos, este resistiu a elas e a 25 de Agosto de 1941, os dois aliados concertadamente invadiram o Irão. Apesar da retórica, a Alemanha pouco podia fazer na prática pela sua causa, e a única potência neutral (os Estados Unidos) era favorável à intervenção anglo-soviética. Três semanas depois, as operações estavam terminadas*, o Xá era deposto e exilado, substituído no trono pelo filho. Símbolo deste novo alinhamento, a primeira Conferência entre os Três Grandes, em 1943, realizou-se precisamente em Teerão…
* De significado premonitório para o quadro geopolítico actual daquela região, a grande maioria das tropas sob comando britânico, eram de origem indiana (8ª e 10ª Divisões de Infantaria indiana, 2ª Brigada Blindada indiana e 21ª Brigada Independente de Infantaria indiana).
Tu e mais uma das tuas "side-stories" da História.E, mais uma vez, deveras interessante.
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