26 novembro 2007

DO DÓLAR AO PETRÓLEO

Pode considerar-se que a política interna e externa da Administração Bush teve um impacto mensurável na reputação (cotação) da sua moeda quando comparada com o euro. Assim, desde Outubro de 2000, quando o dólar valia sensivelmente 1,2 euros, até Novembro de 2007, quando o euro vale aproximadamente 1,5 dólares, houve em 7 anos uma depreciação relativa de cerca de 80% da moeda norte-americana em relação ao euro e à sua cotação actual ...
Actualmente, cerca de 2/3 de todas as transacções internacionais e das reservas de divisas continuam a ser feitas em dólares. E, no conjunto, essas proporções não podem sofrer alterações significativas de forma brusca: não há nenhum país que se permita anunciar um belo dia que pretende trocar a parcela das suas reservas em dólares por outra coisa qualquer. O caos daí resultante na cotação do dólar transformaria as suas próprias reservas em papel sem valor…
Mas quando uma moeda começa a perder o seu valor relativo ao ritmo a que isso tem acontecido ultimamente com o dólar, é natural que quem possua aplicações nessa moeda as queira converter gradual, mas discretamente, noutros bens que não estejam sujeitos ao mesmo desgaste dessa inflação. Só que os operadores que têm essas preocupações não costumam ser particularmente imaginativos e tendem a copiar-se quanto às escolhas…
Entre os exemplos de especulações do passado, há algumas que são extremamente exóticas, como a que envolveu os bolbos de tulipa (acima) nos Países Baixos do Século XVII. Mas, mesmo mais recentemente, numa outra crise de confiança com o dólar, na sequência do segundo choque petrolífero, assistiu-se a momentos emocionantes do mercado do ouro no princípio da década de 80, conforme se pode constatar pelo gráfico abaixo…
Ultimamente, o comportamento do preço do petróleo parece estar a escapar às análises de quem tem tentado explicar a formação dos preços a partir do ritmo dos ajustamentos da produção e do consumo. A correlação entre boas e más notícias e a descida ou subida da cotação do preço do barril de petróleo tem andado próxima de zero, a ponto de fazer os especialistas passarem por palhaços que nada percebem do negócio. A explicação tem de ser outra.
Uma que, para mim, parece ter a virtude de justificar porque não se tem conseguido explicar a irracionalidade do comportamento das cotações mais recentes do barril de petróleo é a de que o petróleo está a ser objecto de uma utilização especulativa como activo financeiro, em alternativa ao dólar, tal qual aconteceu ao ouro nos princípios da década de 80. A revista Foreign Policy publicou um interessante artigo precisamente sobre esse tema.

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