A fotografia sobre o estudante morto a tiro quando se manifestava não é uma fotografia da Guerra do Vietname, mas uma fotografia que ficou associada à Guerra do Vietname. É uma espécie de gesto de reconhecimento que, mesmo os que não participaram mas se envolveram na Guerra, também tiveram as suas baixas. A fotografia data de 4 de Maio de 1970 e foi tirada na Universidade Estadual de Kent, no estado norte-americano do Ohio, e é a terceira maior universidade do estado.
O acontecimento que projectou uma universidade secundária para as primeiras páginas dos noticiários foi um enorme percalço numa cadeia de acontecimentos que se enquadravam numa campanha nacional universitária de protesto contra a Guerra do Vietname que fora marcada para os inícios de Maio desse ano, e que se havia reforçado inesperadamente (a 30 de Abril) com o reconhecimento público pela Administração Nixon do alastramento do conflito ao Camboja.
Desde sempre que se travava uma guerra oculta no Camboja e no Laos. Esses dois países albergavam corredores de reabastecimentos por onde passava grande parte do apoio logístico aos guerrilheiros do Vietcong e às tropas norte-vietnamitas (acima - a trilha Ho Chi Minh) que combatiam no Vietname do Sul. Só a conveniência política das duas partes impedia que o facto fosse assumido. Escandalizar-se devido ao reconhecimento dessa evidência só se podia dever a ignorância, ingenuidade ou hipocrisia…
A verdade é que as manifestações ganharam uma dinâmica suplementar com o anúncio da invasão do Camboja. As responsabilidades pelo que veio a acontecer começam por assentar nas pessoas da fotografia acima. Uns, os civis, por terem solicitado a presença dos soldados da Guarda Nacional, outro, o militar, por não os ter sabido controlar. Neste caso, a fotografia do estudante abatido (chamava-se Jeffrey Miller) sintetiza bem o que aconteceu: 4 manifestantes foram mortos a tiro* quando fugiam do gás lacrimogéneo.
O comportamento dos militares foi indesculpável: apurou-se depois que os mortos estavam entre os 80 a 120 metros de distância dos atiradores… Mas todo este episódio deveria ter sido evitado não fosse uma ideia errada que já repetida vezes demais. A esmagadora maioria dos militares** são treinados para lidar com um inimigo e para neutralizá-lo de qualquer forma… Em democracia, o exército não pode ser entendido como se fosse uma espécie de polícia musculada para situações mais complicadas…
Há unidades de polícia de choque, outras de polícia de intervenção, há mesmo grupos especiais de combate para situações envolvendo reféns, mas confundir funções policiais com funções militares – como aqui aconteceu – é esperar que os soldados esqueçam ou improvisem sobre a natureza do treino que receberam… e isso costuma dar mau resultado.
* Houve também nove feridos – um deles ficou paraplégico.
** Apesar de haver uma especialidade de Polícia Militar.
O acontecimento que projectou uma universidade secundária para as primeiras páginas dos noticiários foi um enorme percalço numa cadeia de acontecimentos que se enquadravam numa campanha nacional universitária de protesto contra a Guerra do Vietname que fora marcada para os inícios de Maio desse ano, e que se havia reforçado inesperadamente (a 30 de Abril) com o reconhecimento público pela Administração Nixon do alastramento do conflito ao Camboja.
Desde sempre que se travava uma guerra oculta no Camboja e no Laos. Esses dois países albergavam corredores de reabastecimentos por onde passava grande parte do apoio logístico aos guerrilheiros do Vietcong e às tropas norte-vietnamitas (acima - a trilha Ho Chi Minh) que combatiam no Vietname do Sul. Só a conveniência política das duas partes impedia que o facto fosse assumido. Escandalizar-se devido ao reconhecimento dessa evidência só se podia dever a ignorância, ingenuidade ou hipocrisia…
A verdade é que as manifestações ganharam uma dinâmica suplementar com o anúncio da invasão do Camboja. As responsabilidades pelo que veio a acontecer começam por assentar nas pessoas da fotografia acima. Uns, os civis, por terem solicitado a presença dos soldados da Guarda Nacional, outro, o militar, por não os ter sabido controlar. Neste caso, a fotografia do estudante abatido (chamava-se Jeffrey Miller) sintetiza bem o que aconteceu: 4 manifestantes foram mortos a tiro* quando fugiam do gás lacrimogéneo.
O comportamento dos militares foi indesculpável: apurou-se depois que os mortos estavam entre os 80 a 120 metros de distância dos atiradores… Mas todo este episódio deveria ter sido evitado não fosse uma ideia errada que já repetida vezes demais. A esmagadora maioria dos militares** são treinados para lidar com um inimigo e para neutralizá-lo de qualquer forma… Em democracia, o exército não pode ser entendido como se fosse uma espécie de polícia musculada para situações mais complicadas…
Há unidades de polícia de choque, outras de polícia de intervenção, há mesmo grupos especiais de combate para situações envolvendo reféns, mas confundir funções policiais com funções militares – como aqui aconteceu – é esperar que os soldados esqueçam ou improvisem sobre a natureza do treino que receberam… e isso costuma dar mau resultado.
* Houve também nove feridos – um deles ficou paraplégico.
** Apesar de haver uma especialidade de Polícia Militar.
Sem comentários:
Enviar um comentário