09 novembro 2007

DO VIETNAME PARA A ÁFRICA PORTUGUESA – 5

Fazendo em 1968 o balanço dos 7 anos do meio do percurso (1961-1975), se o comportamento dos Estados Unidos e de Portugal até aí se assemelharam na construção de dispositivos militares cada vez maiores, eles vão divergir a partir daí, por causa da mudança significativa da política de envolvimento dos norte-americanos no Vietname, desenvolvida pela nova administração republicana do Presidente Richard Nixon. São as virtudes das eleições num regime democrático… Em contrapartida, o clima de expectativa associado à posse de Marcello Caetano como Presidente do Conselho é mais gerado pelas interpretações do percurso anterior do titular do que propriamente pelos discursos por ocasião da sua posse…
Costuma dizer-se que Marcello Caetano se deparava com um problema de regime e com um problema colonial – entrelaçados. Vale a pena mencionar que o regime espanhol, que era mais conservador e tão autoritário quanto o português, conseguia-os tratar em planos diferentes: em Agosto de 1968 a Espanha concedeu a independência à Guiné Equatorial e em Janeiro de 1969, a província de Ifni, no Sul de Marrocos foi integrada nesse país. É evidente que a importância das suas colónias para Portugal não se podia comparar ao caso espanhol, mas também é verdade que a flexibilidade espanhola demonstrou ao seu vizinho marroquino os territórios que eram negociáveis (Sahara) e os que não eram (Ceuta e Melilha). Em 1975, a Indonésia não sabia o que Portugal faria em Timor
Esta imagem do Portugal do Minho a Timor viria a tornar-se um embaraço na capacidade de manobra futura de Marcello Caetano. Mas, no começo, a tolerância era um capital à disposição do recém-chegado. Do outro lado do Atlântico, o recém-chegado Nixon tinha que tirar da cartola uma solução secreta para o problema vietnamita que anunciara na campanha presidencial, mas que hoje se sabe que nunca existira… O coelho foi baptizado pomposamente como a Doutrina Nixon e, apesar de redigida em termos genéricos, quanto ao estilo de envolvimento que seria de esperar dos Estados Unidos no apoio aos seus aliados, o caso de aplicação imediata era o do Vietname, onde uma outra nova expressão começou a surgir: vietnamização.
A ideia da administração Nixon, elementar, consistiria na substituição das tropas combatentes norte-americanas por outras de recrutamento local, sul-vietnamitas. O processo permitiria a diminuição progressiva do contingente militar dos Estados Unidos destacado no Vietname. Em África, fora a necessidade a obrigar ao recurso de tropas locais: demograficamente, o Portugal metropolitano só conseguia colocar nos três teatros operacionais um máximo de 80 a 85.000 efectivos e as necessidades adicionais, provocadas pelo alargamento das frentes de combate, só podiam ser supridas com tropas de recrutamento local. Em 1973, mais de 40% dos quase 150.000 efectivos das Forças Armadas portuguesas em África eram tropas recrutadas localmente.
Mas a função dessas tropas era principalmente a de colmatar as insuficiências de meios humanos da metrópole. No gráfico acima (clicar em cima para aumentar), comparam-se os efectivos norte-americanos destacados no Vietname (a vermelho) e os efectivos portugueses (mas apenas os metropolitanos) destacados para os três teatros africanos ao longo de 12 anos, de 1961 a 1973. Se, no caso norte-americano, a partir de 1968 se vêem claramente os resultados da vietnamização e a saída do contingente americano, no caso português, o volume dos efectivos metropolitanos mobilizados mantém-se na mesma (os 80 a 85.000) até 1973*. Eram os anos onde, já pouco mais se conseguiria melhorar a situação militar, e onde se tornava imperativo jogar no tabuleiro político. Teria sido a deixa de Marcello Caetano…

* Estes dados, tais como os anteriormente mencionados, foram tratados depois de recolhidos daqui, com os meus agradecimentos.

(continua)

2 comentários:

  1. Julgado e aprovado.
    Parabéns pelo espaço, muito bem conseguido.
    A propósito, e peço desculpa pela minha ignorância, intrigou-me a questão hereditária. Quem era (ou é) o tal Aécio?
    Saudações do Marreta.

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  2. Obrigado pelas apreciações elogiosas. O Aécio da herança é um político romano do Século V cuja biografia apresentei num poste em 28 de Setembro de 2006.

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