Em contrapartida, do lado português procurava-se dar a aparência que nem sequer havia componente política a resolver para solucionar o que se designava como o problema ultramarino. Embora caminhando por caminhos diferentes, ficava a sensação em meados da década de 60 que as soluções para a Guerra do Vietname e para as três Guerras de África repousavam exclusivamente no sucesso das armas. Regressando ao objectivo expresso deste conjunto de textos: poderiam as primeiras fases de qualquer daquelas guerras ter corrido de forma diferente? A resposta será provavelmente sim, no caso dos norte-americanos, se o jogo político não tivesse transferido a solução política para os ombros dos militares. A resposta será muito provavelmente não, no caso português.
Assim como seria difícil encontrar no topo das hierarquias portuguesas alguém que tivesse perfil para influenciar e alterar significativamente o fluxo de acontecimentos do início da década de 60, também a própria estrutura do poder estava demasiado formatada à pessoa do Presidente do Conselho para que houvesse possibilidades de se produzirem modificações significativas de carácter reformista. Terá sido essa a leitura de Adriano Moreira, que se afastou da pasta do Ultramar logo em 1963. Em contraste, no caso americano, trata-se da acumulação de erros técnicos e de leitura da situação política no terreno que influenciam o evoluir da situação. Simplificadamente, houvesse mais competência da CIA e talvez tudo pudesse ter evoluído de forma diferente.
Trata-se da acusação premonitória que Graham Greene lança no seu livro de 1955 O Americano Tranquilo, cuja acção se desenrola precisamente no Vietname, sobre as insuficiências da CIA e dos norte-americanos em compreender os povos que tutelavam. Os portugueses orgulhavam-se em mostrar que compreendiam os seus, embora os resultados globais demonstrados na actividade de cativar as elites nativas africanas durante esses primeiros anos de guerra desmentisse as razões para esse orgulho… É difícil compreender qual o racional – se racional houver – por detrás da atitude do Presidente de Conselho à medida que os anos se escoavam e nada de substancialmente novo acontecia na frente política da guerra.
Teria havido uma aposta na utilização da usura, como se o tempo estivesse a funcionar em favor de Portugal? Nessa interpretação, seria a expectativa que o agravamento das tensões da Guerra-Fria fizesse com que os Estados Unidos alterassem as suas posições quanto ao problema colonial que justificava a atitude. Mas o período de tempo que vai de 1961 a 1968, com o alargamento dos conflitos à Guiné (1963) e depois a Moçambique (1964), já teria demonstrado a um Salazar na posse de todas as suas faculdades, que teria de haver alguma inflexão para dar abertura a um plano B, caso esse plano A falhasse… Mas não deixa de ser engraçado registar como ainda hoje há nostálgicos que acreditam na hipotética eficácia da usura e acham que o colonialismo português talvez tenha morrido na praia*…
O ano de 1968 tornou-se um ano pivot nos dois casos. Pelo que aconteceu nos Estados Unidos e pelo que podia ter acontecido – mas não veio a acontecer – em Portugal. Nos Estados Unidos há eleições presidenciais e o problema do envolvimento no Vietname torna-se num dos assuntos principais da campanha; em Portugal, as circunstâncias obrigam à substituição de Oliveira Salazar e o regime tem um daqueles testes supremos das ditaduras: forçado a mudar, existem as possibilidades de se cerrar mais ou a de se reformar por dentro para se adaptar aos novos tempos. A escolha do novo Presidente do Conselho, Marcello Caetano, parece apontar na segunda direcção. Nos EUA, com um novo Presidente (Richard Nixon) parece também ser tempo de novas oportunidades.
Trata-se da acusação premonitória que Graham Greene lança no seu livro de 1955 O Americano Tranquilo, cuja acção se desenrola precisamente no Vietname, sobre as insuficiências da CIA e dos norte-americanos em compreender os povos que tutelavam. Os portugueses orgulhavam-se em mostrar que compreendiam os seus, embora os resultados globais demonstrados na actividade de cativar as elites nativas africanas durante esses primeiros anos de guerra desmentisse as razões para esse orgulho… É difícil compreender qual o racional – se racional houver – por detrás da atitude do Presidente de Conselho à medida que os anos se escoavam e nada de substancialmente novo acontecia na frente política da guerra.
Teria havido uma aposta na utilização da usura, como se o tempo estivesse a funcionar em favor de Portugal? Nessa interpretação, seria a expectativa que o agravamento das tensões da Guerra-Fria fizesse com que os Estados Unidos alterassem as suas posições quanto ao problema colonial que justificava a atitude. Mas o período de tempo que vai de 1961 a 1968, com o alargamento dos conflitos à Guiné (1963) e depois a Moçambique (1964), já teria demonstrado a um Salazar na posse de todas as suas faculdades, que teria de haver alguma inflexão para dar abertura a um plano B, caso esse plano A falhasse… Mas não deixa de ser engraçado registar como ainda hoje há nostálgicos que acreditam na hipotética eficácia da usura e acham que o colonialismo português talvez tenha morrido na praia*…
O ano de 1968 tornou-se um ano pivot nos dois casos. Pelo que aconteceu nos Estados Unidos e pelo que podia ter acontecido – mas não veio a acontecer – em Portugal. Nos Estados Unidos há eleições presidenciais e o problema do envolvimento no Vietname torna-se num dos assuntos principais da campanha; em Portugal, as circunstâncias obrigam à substituição de Oliveira Salazar e o regime tem um daqueles testes supremos das ditaduras: forçado a mudar, existem as possibilidades de se cerrar mais ou a de se reformar por dentro para se adaptar aos novos tempos. A escolha do novo Presidente do Conselho, Marcello Caetano, parece apontar na segunda direcção. Nos EUA, com um novo Presidente (Richard Nixon) parece também ser tempo de novas oportunidades.
* Essa hipótese implicava resistir à pressão internacional com sucesso por mais 15 anos até à queda do Muro de Berlim. Seria mais tempo do que a situação colonial portuguesa resistira até aí às pressões! E fica por explicar onde se iriam buscar os meios materiais, os recursos humanos e a vontade politica para isso… Mas os raciocínios deste fanatismo ideológico (anómalo neste caso, vindo de quem costuma sustentar melhor a sua argumentação, por muito que se discorde dela...) parecem não se deter nesses detalhes pitorescos…
(continua)
Deixei-lhe um pequeno desafio (mais ou menos idiota).
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