A
Guerra da Argélia (1954-62), de que se falou abaixo a propósito da
Batalha de Argel, serviu de orientação inicial aos dois lados (portugueses e nacionalistas) durante as fases iniciais das
Guerras Coloniais travadas em Angola, na Guiné e em Moçambique (1961-74). Por um lado, muitas das tácticas que foram utilizadas inicialmente pelos portugueses foram aprendidas junto dos franceses naquele conflito, por outro, depois da independência argelina em 1962, a
FLN prestou ajuda significativa na preparação, formação e doutrinação das unidades combatentes das organizações nacionalistas que se propunham lutar no terreno contra o exército português.

Por exemplo, seguindo o precedente da
FLN, que havia divido a Argélia durante o período insurreccional em 6 Regiões operacionais distintas (
Wilayas) de contornos diferentes das divisões administrativas coloniais francesas, também o
MPLA quis repartir o território angolano em 6
Regiões Político-Militares (
RPM) que apenas tinham uma vaga correspondência com a configuração das províncias angolanas
*. E a
Primeira RPM correspondia à região que circundava Luanda, provavelmente por ser considerada a mais importante, mas também porque a população local (de etnia kimbundo) era tida geralmente como simpatizante do Movimento.

Mas havia um enorme problema prático para o
MPLA manter uma guerrilha activa naquela região. O trânsito de efectivos e reabastecimentos tinha que ser feito pela fronteira Norte de Angola, atravessando a região onde predominavam os bacongos, tradicionalmente simpatizantes do movimento rival, a
FNLA (veja-se o mapa acima). Os guerrilheiros que ali se conseguiram instalar defrontavam-se simultaneamente com dois inimigos que lhes eram militarmente superiores: o exército português e a
FNLA. Era mais importante para o
MPLA a existência desse núcleo de guerrilheiros do que o resultado militar da sua actividade – negligenciável.

Para consolidar a guerrilha, além de criar alcunhas épicas aos comandantes no terreno, como
Monstro Imortal (João Jacob Caetano, na fotografia acima), o precedente argelino aconselhava a direcção do
MPLA a procurar criar outras vias de reabastecimento clandestinas que partissem de Luanda para abastecer os seus guerrilheiros no mato, como a
FLN fizera com a
Wilaya IV a partir de Argel. Afinal, a Luanda da década de 60
** (onde 66% da população era negra, 26% branca e 8% mulata) poderia não diferir assim tanto da Argel da década anterior, onde a
FLN se
apossara da
Casbah, assim como o
MPLA se poderia vir a
apoderar dos musseques que cercavam a cidade.

Foi ameaça que nunca se chegou a concretizar. Ao contrário de Argel, Luanda nunca chegou a passar pela experiência do terrorismo urbano, nem a ser base logística da guerrilha rural, nem sequer foi domicílio de um órgão político-militar clandestino que conduzisse a subversão – com uma outra legitimidade! – do interior do país. E se isso não aconteceu, terá sido porque as autoridades coloniais portuguesas se mostraram muito mais competentes a reprimir a insurreição do que as francesas e/ou porque as organizações nacionalistas angolanas se mostraram muito mais incompetentes a fomentá-la do que as argelinas…
* Ao contrário da Argélia, a Angola independente adoptou a divisão administrativa herdada dos portugueses.** A população de Luanda mais do que duplicou ao longo da década passando de 225.000 habitantes em 1960 para 480.000 em 1970.
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