27 março 2008

…COM MUITA VIDA E SAÚDE ou APESAR DAS AJUDAS DE VITAL

É nestes momentos políticos que me lembro que existe aquela história antiga, uma pequena peça de sabedoria política, que coloca um ancião a saudar um rei déspota de um reino antigo e distante com um Deus o conserve com muita vida e saúde, votos que fizeram o monarca, consciente da sua impopularidade, a parar e interrogar o ancião sobre a causa de tal cumprimento. Este explicou ao rei que vivera os tempos de seu avô, monarca mau, mas que deixara saudades ao ser substituído por seu pai, ainda pior, até se chegar ao reinado actual, ao mais insuportável de todos, mas que o deixava ainda mais receoso do que estaria para vir…

A sabedoria política ali inclusa é que a escolha política é sempre relativa, há que comparar os que se apresentam com possibilidades reais de chegar ao poder e, na dúvida, Deus conserve o rei com muita vida e saúde. Ontem, depois do anúncio por José Sócrates da redução da taxa do IVA de 21 para 20%, Luís Filipe Menezes, pegando nas declarações do próprio primeiro-ministro de há duas semanas, teve a sua oportunidade, gravação das ditas ao lado, de ir para a cara do touro e pegá-lo, com sucesso, ajudas e rabejador, demonstrando que Sócrates é um tangas igual a ele: uns dias diz umas coisas, na quinzena seguinte já não é bem assim...

Mas, insatisfeito, Luís Filipe Menezes ainda quis aproveitar para pegar o touro de cernelha, e aí estragou tudo, ao considerar a descida do IVA irrelevante e casuística, sentando Miguel Frasquilho perto de si e preconizando uma versão recauchutada do famoso choque fiscal, aquela coisa – relembre-se – que se preconizou quando na oposição e que, uma vez no poder, se verificou que não se podia fazer… Esta incapacidade de Menezes de se conter para que se pudesse explorar devidamente a asneira do adversário é emblemática da razão porque adquiriu tão rapidamente a reputação de ser a segurança para que Sócrates permaneça no poder.

Tirando Menezes, a cena salda-se por mais um episódio cómico, com os serventes do costume a tentar retocar e esclarecer as declarações de José Sócrates. E é preciso ser-se intelectualmente abjecto, como Vital Moreira, para se vir entregar a esse exercício de escolástica, mas em medíocre, procurando refutar o que todos já compreenderam… A diferença toda, para a argumentação de Vital, está na segunda parte da frase que transcreve: José Sócrates afirmou hoje em Bruxelas que é leviano e irresponsável falar em baixar os impostos, sem se conhecer ainda os dados da economia portuguesa do ano passado e os indicadores dos primeiros meses deste ano. Não percebo o que ele pretende refutar.

Por um lado, os factos posteriores vieram comprovar indiscutivelmente como o governo também equacionava a descida dos impostos, tal qual o falatório que Sócrates acusava de leviano e irresponsável da oposição… Por outro, quanto ao texto omisso referido por Vital Moreira, constituído pelo condocionamento devido ao conhecimento prévio dos dados da economia portuguesa, mesmo ele deveria saber que esses números não aparecem subitamente numa Sexta-Feira à noite, qual sorteio do totoloto na TV. Existem tendências, estimativas, previsões… E que há um certo hiato de tempo entre o seu apuramento e a sua divulgação pública… Ou Vital quer-nos-á fazer crer que, conhecidos ontem, foi apenas preciso que Sócrates olhasse para eles e dissesse logo:

- Porreiro, Pá! Porreiro! Com estes números vou já baixar o IVA em 1%...

Há momentos em que a vida política portuguesa tem laivos que parecem do domínio da psicopatologia, com um primeiro-ministro a ter a vida facilitada por quem se propõe derrubá-lo e, ao mesmo tempo, a mesma dificultada por quem põe tanta devoção em ajudá-lo

2 comentários:

  1. Sócrates tem desculpa, porque é sempre o último a saber!
    Nem sequer sabia, durante a campanha eleitoral, que o défice era tão alto, razão para prometer que não aumentava os impostos...
    Por acaso aumentou TODOS e ainda inventou mais alguns!

    ResponderEliminar
  2. A tal história antiga remonta ao avô, mas podemos ir um pouco mais longe, até ao Bisavô do Sócrates.

    Nota: O consulado Barroso/Santana não conta, é uma excrescência da árvore primo ministerial.

    ResponderEliminar