Cronologicamente, a narrativa dos acontecimentos que então transformaram o Médio Oriente, pode começar pelo dia 1 de Setembro de 1970, quando o Rei Hussein da Jordânia (abaixo) sofreu um atentado perpetrado por desconhecidos nas ruas de Amã. O acontecimento é apenas o clímax de um enorme e evidente mal-estar resultante da convivência entre as Forças Armadas jordanas e os guerrilheiros palestinianos das várias facções da OLP*, que estavam aboletados desde 1967 nos campos de refugiados situados à volta da capital jordana.

Foi uma delas, a FPLP* dirigida por George Habash (abaixo), que resolveu subir a parada do conflito, montando uma operação onde se pretendiam desviar simultaneamente vários aviões comerciais ocidentais. Em 6 de Setembro, um Boeing 707 da TWA (norte-americana) e outro da Swissair (suíça) foram desviados para a Jordânia, mas a tentativa de desviar um terceiro Boeing-707 da El Al (israelita) fracassou, registando-se a morte de um dos assaltantes e a prisão do outro – uma activista destinada a ficar famosa, de nome Leila Khaled.

O Boeing-747 da Pan Am acabou por ser redesviado para o aeroporto do Cairo, onde a atitude surpreendentemente pouco encorajadora do regime egípcio de Gamal Nasser para mediar a situação, levou George Habash a decidir mandar fazer explodir o aparelho depois de o evacuar, logo no dia seguinte (dia 7). E dia 9, a FPLP dava mostras da sua versatilidade ao desviar mais um avião para Zarka, um VC-10 da BOAC (britânica) com quem se impunha negociar, pois eram os britânicos que tinham ficado com a custódia de Leila Khaled.

Tudo isto se passara em território jordano, e o que se passara colocava totalmente em causa a autoridade do Rei e do próprio Estado. A partir de dia 15, desencadeia-se uma verdadeira guerra civil para submeter os palestinianos, que receberam apoio militar dos vizinhos sírios e iraquianos, enquanto os Estados Unidos caucionaram a acção jordana enviando para o Mediterrâneo Oriental a sua esquadra. O Egipto e a União Soviética (apenas) verbalizaram os protestos que se esperavam e Israel manteve-se prudentemente calado.

Os Palestinianos acabaram baptizando toda esta sequência de eventos por Setembro Negro, nome que ainda mais se veio a justificar para eles quando a 28, Gamal Abdel Nasser, o Presidente do Egipto (abaixo), veio a morrer subitamente de ataque cardíaco. O apoio de Nasser à causa palestiniana era mais verbal que substancial (note-se a forma como se demarcara do Jumbo que a FPLP fizera aterrar no aeroporto do Cairo…) mas o seu prestígio junto das massas árabes era inegável, e o seu discurso confrontacional com Israel um endosso à sua causa.

George Habash morreu recentemente (em Janeiro de 2008), e houve muitos obituários que abusaram dos disparates, especialmente das analogias com o terrorismo islâmico de Ossama Bin-Laden. É que os movimentos terroristas mais radicais dentro da OLP, como a FPLP ou a FDPLP* (símbolo abaixo), além de se reclamarem de uma ideologia marxista-leninista laica, foram fundadas e/ou foram dirigidos por palestinianos árabes mas de origem cristã, como eram os casos de George Habash, Nayef Hawatmeh ou Wadie Haddad…

FDPLP – Frente Democrática Popular de Libertação da Palestina. Actualmente FDLP.
FPLP – Frente Popular de Libertação da Palestina
OLP – Organização de Libertação da Palestina
É sabido que o atentado e tudo o que se seguiu foram muito uteis para os Jordanos.
ResponderEliminarQuem pagou a factura, foram os mesmos de sempre.
Embora a expressão tradicional seja "um estado dentro de um estado", a OLP funcionava mais como "um estado fora de um estado" em relação às autoridades jordanas.
ResponderEliminarNote-se (está no poste) como a OLP "requisitou" o Hotel Intercontinental de Amã (veja-se pelo link que se tratava de uma cadeia associada à Pan Am) e dispenso-me de comentar que "argumentos" terá invocado para o fazer ou se terá pedido "autorização" ao governo jordano para o fazer...
Naquele mês, Habash "esticou a corda" até onde podia, Arafat "chutou para canto" como quase sempre fez nas alturas cruciais, Nasser mostrou que só "ladrava mas não mordia" e Hussein foi para cima dos palestinianos com tudo o que tinha: era a cabeça dele que estava em jogo.
Passados 5 anos, expulsa da Jordânia, a OLP tinha "escavacado" o Líbano...