
Se a história é – como qualquer poste de blogue – necessariamente breve, a duração do Império não o é. O Império Romano do Oriente, que corresponde à metade oriental do Império Romano conforme se observa no primeiro mapa, teve uma duração que superou os 1.000 anos: de 395 d.C. até 1453 d.C. Para os padrões medievais europeus era um estado de uma complexidade e sofisticação muito avançada, assente em três parâmetros identificativos: direito romano, cultura grega e religião cristã ortodoxa.
Mas não começou assim. Ao princípio, logo depois da separação do Ocidente (e da subsequente queda deste) era um verdadeiro Império, aglomerando a heterogeneidade e rivalidade das três grandes regiões que, mesmo assim o compunham, cada qual com a sua metrópole: o Egipto e a sua capital Alexandria, o Oriente e a sua grande cidade comercial, Antioquia, e finalmente os Balcãs e a Ásia Menor, conectados pela grande capital do Império, Constantinopla.

As divergências acabavam por não representar nada de substantivamente diferente quanto ao essencial da mensagem cristã (tal qual havia sido definida no Concílio de Niceia em 325). Mas, quando são utilizadas para fins políticos, as pequenas diferenças doutrinárias podem parecer abismos impossíveis de transpor: vejam-se, por exemplo, as rupturas no movimento comunista internacional do Século XX entre leninistas, trotskistas ou maoistas. Algo semelhante aconteceu naquela época, só que associado à natureza de Cristo e à procedência do Espírito Santo…
A disputa política – disfarçada de teológica – foi levada a extremos tais dentro do Império Romano do Oriente que frequentemente Alexandria e Antioquia, como capitais regionais, procuravam ser neutrais nas disputas de Constantinopla com os seus inimigos externos, quando não mesmo se opunham aos interesses do centro do Império. E no Século VII, por ocasião da expansão islâmica, a adesão dos cristãos não ortodoxos à nova ordem dos invasores foi maciça, onde passaram – convertidos à nova fé ou não – a constituir a maioria dos quadros não militares.

Regressando ao passado, o Império Romano conseguiu a proeza notável de resistir ao impacto da expansão islâmica (acima) que alcançou tanto a França como a Índia, embora ficasse mais reduzido em extensão, mas com a vantagem de ser tornado muito mais coeso, englobando apenas a Ásia Menor e as regiões europeias, onde apenas predominava o cristianismo ortodoxo. As maiores pressões que o Império passou a sofrer vinham agora das regiões europeias, onde os povos eslavos (búlgaros, sérvios) estavam a procurar criar estados de confissão ortodoxa mas independentes da tutela imperial de Constantinopla.
Da batalha de Manzikert (1071), travada no século XI entre romanos* e turcos, ficou o simbolismo do início da perda progressiva da influência do velho Império nas regiões da Ásia Menor perante a constante pressão dos povos turcos, de religião islâmica. Mas também a população local, sujeita ao poder turco, se foi convertendo progressivamente. Nos últimos grandes momentos do Império (meados do século XIII - abaixo em azul), ele agrupou-se à volta do Mar Egeu, tanto nas suas costas europeias (onde se situa a Grécia moderna) como nas asiáticas, numa disposição parecida com a do período áureo da civilização da Grécia Clássica**.


Como é que é? Deu ajuda no trabalho? As respostas podem endereçar-se para o meu correio: herdeirodeaecio@hotmail.com
* Note-se que entre os historiadores ocidentais se criou o hábito de designar os romanos por bizantinos, para fazer esquecer que eram eles eram os verdadeiros e legítimos – sem interrupções! – herdeiros das instituições políticas romanas. Aliás, árabes e turcos, para quem essas controvérsias eram irrelevantes, designavam os habitantes do Império colectivamente pelo nome de Rum.
** Uma fracção apreciável das cidades da Grécia clássica – a começar pela famosa Tróia – situa-se na actual Turquia ocidental.
** Uma fracção apreciável das cidades da Grécia clássica – a começar pela famosa Tróia – situa-se na actual Turquia ocidental.
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