

A fotografia foi tirada numa plantação perto de Moshi*, em 1914, meses antes do início da guerra e carrega consigo o simbolismo de uma certa forma arrojada da presença europeia em África e, consequentemente, do modo como a campanha veio depois a ser travada por parte de Von Lettow-Vorbeck.
As suas forças constituíram-se numa coluna militar em contínua movimentação para evitar a localização por parte do inimigo, que era numericamente muito superior, recorrendo muitas vezes a expedientes imaginativos para se abastecer. Os britânicos despenderam os quatro anos da guerra na perseguição a um inimigo astucioso, como se de uma gigantesca caçada à raposa se tratasse.

Por outro lado, Von Lettow-Vorbeck veio a mostrar-se um improvisador (o que é uma qualidade raríssima em alemães…**) extremamente bem sucedido: a artilharia recuperada do bloqueado cruzador Königsberg, por exemplo, 10 peças de 105 mm e 2 de 88 mm, foi transformada para utilização em terra e serviu-lhe para adquirir uma vantagem táctica sobre o inimigo enquanto não se lhe esgotaram as munições. Mas boa parte do período da campanha (a partir de Setembro de 1916) foi de uma intensa perseguição das muito mais numerosas forças dos aliados.

Foi em território zambiano que lhe chegaram as notícias do armistício em 13 de Novembro de 1918. Terminara a caçada à raposa. A rendição realizou-se em 25 de Novembro de 1918. Dos cerca de 2.000 europeus e 8.000 soldados locais (conhecidos por Askaris) de 1914, as forças de Von Lettow-Vorbeck na altura da rendição contavam com 175 europeus e cerca de 3.000 Askaris. Quanto aos perseguidores, entre forças britânicas, sul-africanas, portuguesas, belgas e indianas, chegaram a totalizar os 130.000.
Ao contrário dos combates noutros teatros da Primeira Guerra Mundial, estes não haviam sido muito sangrentos, mas o clima e as deploráveis condições higiénicas em que as operações se realizaram reclamaram cerca de 60.000 baixas por doença, contando apenas as forças que estiveram sob comando britânico. Considerando este aspecto, é um pouco difícil analisar toda a campanha sob aquele aspecto desportivo de um grande jogo entre cavalheiros, como às vezes a querem descrever.

* Moshi é uma cidade da actual Tanzânia, no sopé do Monte Kilimanjaro. A plantação onde aquela fotografia foi tirada não devia ser muito distinta da que, do outro lado da fronteira, no Quénia, Karen Blixen (Out of Africa) e o marido possuíam. Aliás, segundo a versão alemã da Wikipédia, Von Lettow-Vorbeck foi testemunha do casamento dos Blixen em 14 de Janeiro de 1914.
** Maliciosamente, há quem considere que Von Lettow-Vorbeck, que era natural de Saarlouis, no estado do Sarre, situado mesmo junto à fronteira francesa, será o mais latino (no sentido de imaginativo...) daquilo que os alemães o podem ser…
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