Várias circunstâncias reúnem-se para fazer de Fernão de Magalhães (1480-1521) um descobridor peculiar, a quem sempre faltou a promoção institucional da sua imagem. Causas disso, entre os espanhóis não se esquecem as suas origens portuguesas, apesar das suas proezas mais famosas se terem feito ao serviço dessa coroa, e entre os portugueses não se esquece a traição que o fez, aos 34 anos, oferecer os seus préstimos aos seus vizinhos e rivais. A rematar, o seu nome original contêm logo dois daqueles difíceis (e creio que exclusivos) ditongos nasais do português (ão/ãe), que o torna complicado de pronunciar e transliterar para a maioria das outras línguas.
Como resultado de tudo isso, apesar de o nome do grande descobridor, embora na sua forma internacional (Magellan), já tenha servido para baptizar sondas espaciais norte-americanas (acima), a marinha de guerra espanhola – e muito menos a portuguesa… – nunca teve a ousadia de o escolher para nome de baptismo de qualquer dos seus navios. Quem conheça um pouco a história da viagem de circum-navegação do mundo efectuada, sabe quão fundamental foi a determinação de Magalhães para a concretização da viagem, nomeadamente a, ainda hoje, muito difícil travessia da passagem do extremo meridional da América do Sul, através do Estreito que ficou com o seu nome.
Morto nas Filipinas em Abril de 1521, a direcção da expedição foi assumida por Juan Sebastian de Elcano, que preferiu completar a viagem de circum-navegação em vez de retornar das Filipinas a Espanha pelo mesmo caminho por onde viera, através dos Oceanos Pacífico e Atlântico, como era o propósito original da expedição: o de descobrir uma via marítima de acesso às especiarias orientais através do hemisfério que, pelo Tratado de Tordesilhas, ficara atribuído a Espanha - veja-se o mapa inicial. Sabendo isto, talvez seja mais apropriado atribuir a decisão da realização da primeira viagem de circum-navegação ao lugar tenente de Magalhães.
Mas suspeito que não terá sido por isso que o navio escola da armada espanhola tenha recebido o nome de Juan Sebastian de Elcano (acima), enquanto o nome de Fernão de Magalhães continua a ser um nome tabu para aquela mesma instituição... Mas, se a mudança de fidelidades de Magalhães o pode colocar numa espécie de limbo das memórias institucionais, já é mais difícil compreender o esquecimento dado às realizações de um outro navegador de origem portuguesa, Pedro Fernandes Queirós (1565-1614), onde esse problema não se põe, porque, quando começou a sua vida profissional, era originário de um país que já estava num regime de união pessoal (desde 1580) com a Espanha.
A grande proeza de Fernandes Queirós realizou-se ao serviço da coroa espanhola quando, em 1606, no comando de uma expedição oriunda do Peru, na América Espanhola, atingiu as ilhas actualmente conhecidas por Vanuatu (de que a maior ainda conserva o nome com que, na altura, a baptizou: Espírito Santo*) para além de ter realizado outras explorações, menos bem documentadas. A documentação comprova que, pelo menos alguns membros da sua expedição, terão atingido a Austrália e a Nova Guiné, uma vez que o estreito que os separa (hoje conhecido por Estreito de Torres, nome de um dos adjuntos – também português – de Queirós) foi atingido e cartografado.
Nem por isso os seus feitos são reconhecidos em Espanha. Em 1606, tanto a Espanha como Portugal – unidos pelo mesmo monarca num regime de união pessoal havia 26 anos – estariam muito para além das suas capacidades de expansão económica e demográfica para poderem aproveitar o potencial representado pelas terras temperadas da Austrália meridional, como o vieram a fazer os britânicos, quase 200 anos depois. Caso isso tivesse acontecido, provavelmente, a pessoa de Pedro Fernandes Queirós não seria uma nota de rodapé da história dos descobrimentos mundiais. Ou talvez não, que, pensando no precedente, haveria uma grande probabilidade que o reconhecimento daquele feito viesse a recair noutro espanhol…
Como resultado de tudo isso, apesar de o nome do grande descobridor, embora na sua forma internacional (Magellan), já tenha servido para baptizar sondas espaciais norte-americanas (acima), a marinha de guerra espanhola – e muito menos a portuguesa… – nunca teve a ousadia de o escolher para nome de baptismo de qualquer dos seus navios. Quem conheça um pouco a história da viagem de circum-navegação do mundo efectuada, sabe quão fundamental foi a determinação de Magalhães para a concretização da viagem, nomeadamente a, ainda hoje, muito difícil travessia da passagem do extremo meridional da América do Sul, através do Estreito que ficou com o seu nome.
Morto nas Filipinas em Abril de 1521, a direcção da expedição foi assumida por Juan Sebastian de Elcano, que preferiu completar a viagem de circum-navegação em vez de retornar das Filipinas a Espanha pelo mesmo caminho por onde viera, através dos Oceanos Pacífico e Atlântico, como era o propósito original da expedição: o de descobrir uma via marítima de acesso às especiarias orientais através do hemisfério que, pelo Tratado de Tordesilhas, ficara atribuído a Espanha - veja-se o mapa inicial. Sabendo isto, talvez seja mais apropriado atribuir a decisão da realização da primeira viagem de circum-navegação ao lugar tenente de Magalhães.
Mas suspeito que não terá sido por isso que o navio escola da armada espanhola tenha recebido o nome de Juan Sebastian de Elcano (acima), enquanto o nome de Fernão de Magalhães continua a ser um nome tabu para aquela mesma instituição... Mas, se a mudança de fidelidades de Magalhães o pode colocar numa espécie de limbo das memórias institucionais, já é mais difícil compreender o esquecimento dado às realizações de um outro navegador de origem portuguesa, Pedro Fernandes Queirós (1565-1614), onde esse problema não se põe, porque, quando começou a sua vida profissional, era originário de um país que já estava num regime de união pessoal (desde 1580) com a Espanha.
A grande proeza de Fernandes Queirós realizou-se ao serviço da coroa espanhola quando, em 1606, no comando de uma expedição oriunda do Peru, na América Espanhola, atingiu as ilhas actualmente conhecidas por Vanuatu (de que a maior ainda conserva o nome com que, na altura, a baptizou: Espírito Santo*) para além de ter realizado outras explorações, menos bem documentadas. A documentação comprova que, pelo menos alguns membros da sua expedição, terão atingido a Austrália e a Nova Guiné, uma vez que o estreito que os separa (hoje conhecido por Estreito de Torres, nome de um dos adjuntos – também português – de Queirós) foi atingido e cartografado.
Nem por isso os seus feitos são reconhecidos em Espanha. Em 1606, tanto a Espanha como Portugal – unidos pelo mesmo monarca num regime de união pessoal havia 26 anos – estariam muito para além das suas capacidades de expansão económica e demográfica para poderem aproveitar o potencial representado pelas terras temperadas da Austrália meridional, como o vieram a fazer os britânicos, quase 200 anos depois. Caso isso tivesse acontecido, provavelmente, a pessoa de Pedro Fernandes Queirós não seria uma nota de rodapé da história dos descobrimentos mundiais. Ou talvez não, que, pensando no precedente, haveria uma grande probabilidade que o reconhecimento daquele feito viesse a recair noutro espanhol…
* Conhecida por Espiritu Santo.
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