Nos princípios do século passado, houve um escroquezito que, aproveitando a onda de monarcas depostos e exilados que dominavam aquela época, se movimentava pela sociedade burguesa algarvia intitulando-se príncipe da Andorra. Dá para imaginar a impressão que o convívio com um ex-monarca (que se vestia e comportava a preceito) produziria entre aqueles provincianos de posses, para depois serem chamados de parte onde, numa conversa falsamente embaraçada, se solicitava se podiam resolver um pequeno (e pontual) problema do príncipe que os deixava mais leves…
Nos antípodas desse deslumbramento estava um marítimo rústico que, um dia e numa viagem de recreio de barco para que o príncipe fora convidado (e recorde-se que, naquela época, os barcos de recreio ou andavam à vela ou a remos), se estava a irritar com o convidado porque, ao contrário dos outros homens a bordo, apenas passeava a sua cigarrilha e a sua distinção e nada contribuía para que o barco avançasse a remos (que o vento não ajudava). Num republicanismo, que também era de época, o marítimo vira-se para a excelência e, indicando um remo, exclama: Reme também daí, mane Rei!!
Todo este episódio não abona muito em favor da argúcia e cultura das elites algarvias porque o tal príncipe poderia ser facilmente desmascarado com uma Enciclopédia ou um telegrama: Andorra nunca teve qualquer príncipe ao longo da sua história. Por causa da sua localização, no meio dos Pirenéus, a cadeia montanhosa que separa a Espanha de França, desde há muito que Andorra tinha até dois soberanos, um do lado espanhol, o Bispo de Urgel (uma diocese na Catalunha) e outro do lado francês, o Presidente da República, que herdara os seus direitos dos monarcas franceses.
Nunca existira nenhuma revolução em que os andorranos tivessem deposto o seu bem amado príncipe e, aliás, era até difícil imaginá-la sabendo-se que eles não eram mais de 4.000 (dados de 1932) o que tornava difícil a formação das multidões que costumamos associar a esses episódios. Aliás, essa revolução teria sido uma saudável novidade para um país que quase não tem história, embora a geografia física e humana de toda a região onde se insere seja muito interessante. Embora a cadeia dos Pirenéus seja imponente (45 picos acima dos 3.000 metros), as mesmas populações habitam-no dos dois lados.
No extremo ocidental da cadeia são os bascos que a habitam, tanto do lado norte como (a maioria) do lado sul; no extremo oriental, o mesmo acontece precisamente com os catalães. São os superiores interesses das grandes nações como a França e a Espanha que fazem com que a fronteira tenha os contornos que hoje tem. E, foi nesse mesmo espírito, que os dois países acordaram em neutralizar o pequeno feudo andorrano, de língua catalã, entalado no meio da cadeia montanhosa (o seu ponto mais baixo situa-se a 840 metros de altitude, o mais alto a 2.942 metros).
Um território esquecido até aí, Andorra só se começou a desenvolver economicamente de uma forma significativa na década de 60. A população de 9.000 habitantes da altura multiplicou-se por oito nos cinquenta anos seguintes, transformando-se num entreposto comercial beneficiando de isenções fiscais propositadamente escolhidas (por exemplo, tabaco, combustíveis ou artigos de luxo) para tornar o seu comércio concorrencial com o dos seus grandes vizinhos. O turismo, seja o das compras ou o das estâncias de Inverno, representa 80% do PIB.
Andorra tem acordos postais com a Espanha e a França e assinou um tratado de união aduaneira com a União Europeia em 1989, que lhe permite manter o seu comércio, beneficiando de circunstâncias excepcionais do ponto de vista fiscal. A moeda é o Euro. Contudo, a prosperidade trouxe consigo uma alteração da composição populacional: os andorranos serão actualmente apenas 24% da população, que é quase maioritariamente de nacionalidade espanhola (49%), e onde há significativas comunidades portuguesas (12%) e francesas (8%).
Nos antípodas desse deslumbramento estava um marítimo rústico que, um dia e numa viagem de recreio de barco para que o príncipe fora convidado (e recorde-se que, naquela época, os barcos de recreio ou andavam à vela ou a remos), se estava a irritar com o convidado porque, ao contrário dos outros homens a bordo, apenas passeava a sua cigarrilha e a sua distinção e nada contribuía para que o barco avançasse a remos (que o vento não ajudava). Num republicanismo, que também era de época, o marítimo vira-se para a excelência e, indicando um remo, exclama: Reme também daí, mane Rei!!
Todo este episódio não abona muito em favor da argúcia e cultura das elites algarvias porque o tal príncipe poderia ser facilmente desmascarado com uma Enciclopédia ou um telegrama: Andorra nunca teve qualquer príncipe ao longo da sua história. Por causa da sua localização, no meio dos Pirenéus, a cadeia montanhosa que separa a Espanha de França, desde há muito que Andorra tinha até dois soberanos, um do lado espanhol, o Bispo de Urgel (uma diocese na Catalunha) e outro do lado francês, o Presidente da República, que herdara os seus direitos dos monarcas franceses.
Nunca existira nenhuma revolução em que os andorranos tivessem deposto o seu bem amado príncipe e, aliás, era até difícil imaginá-la sabendo-se que eles não eram mais de 4.000 (dados de 1932) o que tornava difícil a formação das multidões que costumamos associar a esses episódios. Aliás, essa revolução teria sido uma saudável novidade para um país que quase não tem história, embora a geografia física e humana de toda a região onde se insere seja muito interessante. Embora a cadeia dos Pirenéus seja imponente (45 picos acima dos 3.000 metros), as mesmas populações habitam-no dos dois lados.
No extremo ocidental da cadeia são os bascos que a habitam, tanto do lado norte como (a maioria) do lado sul; no extremo oriental, o mesmo acontece precisamente com os catalães. São os superiores interesses das grandes nações como a França e a Espanha que fazem com que a fronteira tenha os contornos que hoje tem. E, foi nesse mesmo espírito, que os dois países acordaram em neutralizar o pequeno feudo andorrano, de língua catalã, entalado no meio da cadeia montanhosa (o seu ponto mais baixo situa-se a 840 metros de altitude, o mais alto a 2.942 metros).
Um território esquecido até aí, Andorra só se começou a desenvolver economicamente de uma forma significativa na década de 60. A população de 9.000 habitantes da altura multiplicou-se por oito nos cinquenta anos seguintes, transformando-se num entreposto comercial beneficiando de isenções fiscais propositadamente escolhidas (por exemplo, tabaco, combustíveis ou artigos de luxo) para tornar o seu comércio concorrencial com o dos seus grandes vizinhos. O turismo, seja o das compras ou o das estâncias de Inverno, representa 80% do PIB.
Andorra tem acordos postais com a Espanha e a França e assinou um tratado de união aduaneira com a União Europeia em 1989, que lhe permite manter o seu comércio, beneficiando de circunstâncias excepcionais do ponto de vista fiscal. A moeda é o Euro. Contudo, a prosperidade trouxe consigo uma alteração da composição populacional: os andorranos serão actualmente apenas 24% da população, que é quase maioritariamente de nacionalidade espanhola (49%), e onde há significativas comunidades portuguesas (12%) e francesas (8%).
Acho o seu blog está extraordinariamente bom e que me faz um jeito...Agora já sei sempre que quiser tirar uma dúvida sobre um país já sei onde vou. Em vez de ir à wikipédia que nunca tem nada do que eu quero vou ao seu blog que é uma maravilha!
ResponderEliminarOs parabéns de um amante de geografia que agora passou a admirar o seu blog...
Agradeço-lhe o elogio, mas faço-lhe notar que os autores da Wikipédia estão obrigados a uma sobriedade e objectividade no tratamento dos assuntos que eu posso dispensar...
ResponderEliminar